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...são necessárias para se chegar a uma resposta?

11.1.07

Wellington, o Papai Noel

A família inteira estava reunida para a noite de Natal. Três gerações da classe média-alta porto-alegrense confraternizando em um apartamento próximo à praça da Encol, felizes e satisfeitos no mais pleno sentido da palavra. A ceia havia sido farta e os mais velhos tinham bebido cerveja e vinho, pelo menos o suficiente para ficarem rindo a toa sem armarem confusão. Na mesa, os pratos deram lugar a meia dúzia de travessas de sobremesas: torta de chocolate, brigadeiros e quindins, profiterolis, maçã em calda, musse de maracujá e alguns doces trazidos de Pelotas. As crianças terminavam de empanturrar-se e espiavam animadas a árvore de natal, rodeada por dezenas de caixas no canto da sala.

O casal de anfitriões, vivos apesar das discussões que os acompanharam nos últimos 52 anos, fingia indiferença mútua. Ignoravam-se através das conversas com os três filhos, dos comentários aos genros e à nora e das brincadeiras com os 5 netos. Tinham naquela companhia numerosa a desculpa perfeita para sequer se dirigirem a palavra, ainda que vez por outra se ofendessem pelas costas. Nesse alegre retrato natalino, as atenções giravam ao redor de um menino chamado Alexandre, o mais novo entre os netos, com apenas dois anos e meio. Grande, gordo e mimado - todos esses adjetivos saltavam aos olhos diante daquela criança -, lhe haviam prometido uma noite inesquecível, não apenas carregada de presentes, mas acompanhada de uma visita especial: o Papai Noel.

Ainda que nenhuma das outras crianças acreditasse mais na existência do bom velinho – todas haviam já entrado, e algumas até saido, da adolescência – a atenção dedicada ao pequeno era tanta que sua vó quis presenteá-lo com um espetáculo a parte. Com uma amiga, ela resgatou o número de um ator que se encaixasse no perfil do sr. Claus (alto, gordo, de barba branca e com jeito para lidar com crianças). Na primeira semana de dezembro, chamou-o pelo telefone.

– Alô?

– Olá! Eu gostaria de falar com o senhor Marlon...

– Ele na linha.

– O senhor ainda faz trabalhos de papai noel na noite de natal?

– Faço, mas tô com meus horários completos!

– Não me diga! O senhor tem certeza de que não pode aparecer, a gente paga bem...

– Olha, lamento, mas meu trabalho exige muita responsabilidade e não quero deixar nenhum cliente na mão. Em compensação, posso lhe indicar um conhecido...

– Sim, por favor!

– Vou lhe passar o telefone do Wellington...

– De quem?

– Do Wellington... Ele é novo no serviço, mas faz um papai noel quase perfeito.

– Olha, do que que se trata esse quase? Eu não quero papai noel magro ou de barba postiça.

– Não se preocupe senhora, ele só não é exatamente... ãhm... ortodoxo... Mas as crianças sempre adoram.

– Se o senhor garante...

– Não se preocupe, é só ligar pra ele e dizer que foi o Marlon quem lhe passou o número.

Ela rabiscou o telefone no canto de uma folha de jornal e telefonou em seguida. Bem atendida por um homem de voz grave, ela marcou a visita para as 21h de domingo, dia da véspera, e acertou os detalhes menores sem coragem para perguntar o porque do quase. Era um papai noel, e nesse exato momento era tudo de que ela precisava saber.

(depois eu continuo, acho que tá meio grande a essa altura)

2 Comments:

At sexta-feira, janeiro 12, 2007 6:23:00 PM, Blogger Paula Pereira said...

Ah! Que sacanagem! É no diálogo que a história começou a ficar boa. Não vou ler a continuação agora só de protesto, humf!

 
At sexta-feira, janeiro 12, 2007 9:10:00 PM, Anonymous Anônimo said...

haha, aposto q era um cara da josé bonifacio!hehehe michezãoooooo.
Italo , o louco

 

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