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26.2.07

Oscar + Letra e Música + Man of the Year

Ontem assisti ao Oscar, hoje acompanhei "Letra e Música" e "Man of The Year". Falar de todos vai ser difícil (até porque não tenho recebido muitos comentários, e isso me faz pensar que os posts estão longos e chatos), mas vou resumir um pouco.

O Oscar não foi de todo "previsível". As categorias que já estavam ganhas (Ator, Atriz, Diretor) valeram pela cara dos derrotados. O Peter O'Toole era um retrato da mais pura e continuada tristeza, mas talvez tenha sido bom ele não ter ganho (era capaz de ter morrido do coração). Na sua oitava indicação, o inesquecível "Lawrence da Arábia" devia ter trazido no bolso um discurso - "just in case", teria dito caso ganhasse. Imagino as piadas irônicas que escreveu, como todo bom inglês, a expressão de surpresa e (quase) descaso, treinada há mais de três décadas diante do espelho para esta inegável possibilidade. Me pergunto se este se parecia um pouco com os discursos anteriores, que levou dobrados junto ao peito e que lá conservou até o final da cerimônia, para jogar fora quando ninguém estivesse olhando. Me pergunto se fantasio demais sobre tudo isso, ou se de fato as suas indicações lhe renderam um Oscar e três quintos, bem como a Academia resolveu premiá-lo ano passado com uma estatueta honorária. De tudo isso, tenho certeza apenas do nó na garganta, um segundo pomo de Adão que ele ostentou como poucos homens, sem se render a uma lágrima sequer. Nada de "bom" velinho - um velinho e tanto, isso sim.

Prêmios: Dreamgirls mereceu, Babel merecia mais, PM Sunshine mereceu, L do Fauno mereceu, Cartas merecia mais, Os Infiltrados NÃO mereceu, Al Gore mereceu (mas capitalizou demais em cima), A Rainha mereceu, F da esperança merecia ao menos 1. No resto me meto só se quiserem perguntar.

"Letra e Música" é engraçado (bastante), e romântico se você estiver desesperado a ponto de acreditar no Hugh Grant. Vale pelas risadas e pela forma como os tradicionais clichês do filão foram trabalhados - alguns à perfeição, outros servindo de piada mesmo. Destaque para a metáfora que vale o filme: "Numa música, a melodia é como o sexo, a atração física. As letras são o conteúdo, pelo qual a gente se apaixona".

Já "O Homem do Ano" é difícil de classificar de forma simples. Se tivesse três horas de duração, poderia ser a melhor comédia que eu vi desde "Borat" - tá, deixa eu reformular... - e a segunda melhor que eu vi desde muito. As piadas não são todas originais, mas são muito boas.

O defeito número 1 do longa é que as cenas sérias são realmente sérias. Boas mesmo, boas até demais. A atuação de Laura Linney corta o clima de risada e é preciso um tempinho para achar graça outra vez. Em compensação, deve-se ter em conta que esse defeito deriva de outros dois, bem piores (partindo do pressuposto, claro, que uma boa atuação nunca é responsável por estragar um filme).

O roteiro não está à altura da história; não é que ele seja ruim, muito pelo contrário. Mas ele não dá espaço para o desenvolvimento de certos aspectos, e passa tanto a noção de superficialidade quanto de seriedade desnecessária. Sem a contraparte comédia, a posição delicada em que a personagem de Linney se encontra ficaria plenamente exposta, mostrando pequenas lacunas e falta de devidas conclusões. Sem a contraparte séria, o resultado seria um pastelão sem pé nem cabeça.

O resultado é a impressão de que a história teve de ser drasticamente reduzida por falta de verbas ou por medo de uma duração excessiva. A única outra explicação plausível (que não refuta a primeira, mas lhe é complementar) é uma falha de direção, que exigiu ou permitiu profundidade demais para certos personagens, deixando outros na sombra.

Quem quiser culpar a edição também é bem vindo, mas acho que o pobre coitado ainda tentou botar ordem na casa, com certo sucesso. Como eu disse, talvez com três horas de filme ele pudesse ter dado um jeito.