Quantas perguntas?

...são necessárias para se chegar a uma resposta?

15.2.07

Um grande ridículo...

Vim correndo para casa me esconder do mundo e deixo aqui o relato da minha desventura.

Acabo de dar aquele que foi (e provavelmente será) o maior fora da minha vida. Não fui recriminado por isso – creio que tampouco serei –, mas me senti o maior dos idiotas nesse quadrante do universo. Apesar disso, encerro aqui toda e qualquer manifestação de auto-piedade. Os fatos são sérios demais para isso.

Ontem morreu o pai da minha chefa. Cheguei no trabalho na hora habitual (30 minutos atrasado). Percebi que ela não estava lá e presumi que tivesse ido almoçar. As minhas páginas estavam sobre a mesa e todos trabalhavam normalmente, mas havia um estranho silêncio pela redação. Um silêncio suspeito.

Quando percebi que as coisas sobre a mesa da minha chefa não eram dela (a bolsa ao lado do computador, o casaco sobre a cadeira...) imaginei o que devesse ter acontecido. Seu pai andava mal há algum tempo, e, por mais que ela não falasse muito sobre o assunto, era comum vê-la afundar-se no trabalho com os olhos avermelhados. No dia anterior, como em outros, percebi que havia algo errado e perguntei se ela estava bem. Pergunta idiota.

Hoje era o velório, em Cachoeirinha. Me disseram que era às 10h30. Não sei, posso ter entendido errado. Cheguei às 11h pensando em dar um abraço e ficar para o enterro. O caixão já estava sob a terra, e os coveiros jogavam terra por cima.

Nunca tinha ido a um enterro, e confesso que tinha certo receio. Mas chegar atrasado foi péssimo. Imperdoável. Quase fui embora sem dizer nada, mas esperei alguns minutos para dar meus pésames. Não dei. Dei um abraço, mas não soube o que dizer.

Saí correndo junto às pessoas que debandavam, por mais que quisesse permanecer um pouco mais, mostrar o respeito com que havia faltado. Não pude por causa da vergonha.

No caminho de volta para Porto Alegre, passei por um caminhão que levava a seguinte frase: "Vivendo na ilusão – Saudades do papai". O sol e o vento que batiam no meu rosto pela janela me mostraram que era o contrário. A ilusão é de quem não sente saudades, de quem não chora pelos que se vão. A dor e a perda fazem parte da vida, mas no meu percurso dessa manhã passei bem longe dela. Toquei-a apenas, e fiquei triste por não saber compartilhar a tristeza dos outros.