Quantas perguntas?

...são necessárias para se chegar a uma resposta?

10.2.07

Antônia

Liguei o meu computador para escever um comentário sobre "Antônia", filme brasileiro que chegou às telas nessa sexta-feira. Preciso entregar amanhã, e escrevo novamente no blog para aproveitar o ânimo. Mas antes deixo um pequeno protesto: talvez pela baixa repercussão, talvez pelo cinema nacional ser fortemente desacreditado pela minha editora, a matéria foi empurrada de sexta pra sábado e de sábado para domingo. Isso não é nada, nada bom mesmo. Especialmente porque agora eu tenho apenas meia página para falar de um filme que está recebendo tratamento de uma produção ruim, mas nessa meia página acho que mal vão caber as qualidades da produção.

O filme acompanha as dificuldades de quatro jovens para se manterem unidas e alcançarem o sucesso através da música. Preta, Barbarah, Mayah e Lena têm o talento necessário – vozes invejáveis, originalidade criativa e personalidade –, porém precisam conquistar o seu espaço ao mesmo tempo em que se confrontam com as dificuldades da vida na favela.

Apesar da premissa batida, que desanima logo de cara aos mais céticos, a produção consegue apresentar uma história agradável, explorando os problemas das protagonistas sem recorrer ao melodrama. Com uma abordagem intimista, utilizando recursos de documentário (câmera livre, ângulos na perspectiva de um observador presente, iluminação natural etc), o longa segue a visão de cada uma delas, privando-se de oferecer uma moral pronta.

A essência do filme se encontra além do apelo que as atrizes conseguiram atingir entre os espectadores adolescentes. Ainda que todos os elementos para um conto de fadas contemporâneo estejam presentes, falta a superficialidade e a visão fechada que se esperaria de um filme voltado para o público infanto-juvenil. Em uma escolha interessante, a diretora Tata Amaral optou por explorar esses acontecimento através das reações emocionais dos personagens, criando um foco dependente da identificação do espectador.

O tom de drama da narrativa é centrado na insistência das meninas em cantarem no seu próprio estilo (uma mistura de rap com pop e pitadas de mpb), na luta para se fazerem ouvir e mesmo no esforço pela sobrevivência diária. A prisão de Barbarah, o espancamento de seu irmão, a gravidez de Lena e as demais peripécias da trama compompletam a temática adulta, numa busca que tampouco será concluída com o tradicional "felizes para sempre".

A falta de conclusões representa um dos principais defeitos do longa, poie ele sugere lacunas demais. Talvez essas pudessem ser preenchidas pelos quatro episódios de "Antônia" exibidos previamente na TV, ou pelos próximos quatro em fase de produção. Ainda assim, a história perde parte da beleza pelo que deixa em aberto – como se fosse um recorte incompleto da realidade que se dispõe a resumir.

Duas qualidades, porém, fazem de Antônia uma aternativa interessante para as telonas. A ótima atuação de Thaíde como o hilário empresário Marcelo Diamante é um show a parte. Malandro, simpático e (aparentemente) bem intencionado, ele faz as vezes de quinto elemento no quarteto de meninas.

O outro ponto alto são os diálogos. No todo da película, a comunicação se dá quase sem palavras. Apesar de alguns belos momentos narrativos e do lirismo que se pode encontrar nas músicas, os personagens abrem a boca para dizer apenas o necessário – às vezes menos – e com isso acabam por transferir o diálogo para outra esfera: os pequenos gestos, a naturalidade das interjeições e das repetições, a impossibilidade de dizer o que quer que seja. Graças a este recurso, "Antônia" conta sua história com um realismo simples e natural, capaz de surpreender e fazer pensar.