Quantas perguntas?

...são necessárias para se chegar a uma resposta?

26.7.06

soneto insensato

Engraçado, tentei me concentrar pra escrever sobre alguma coisa interessante e não consegui... O "interessante" é relativo, verdade, mas o "concentrar" é absoluto. Vivo absorto em pensamentos circulares e, mesmo quando me dedico dar-lhes algum sentido, não desligo. Não consigo. Fico funcionando assim, dividido, imerso num mundo de fragmentos pessoais que molda e reconstrói a minha realidade numa velocidade constante.

Nos bons dias, ela - a realidade - chega cheia de bolinhas coloridas, com gosto de sorvete de morango ou com o som de sonetos insensatos, poesias que se revelam nuas em meio às possibilidades da palavra. Nos maus dias... Bem, nos maus dias ela mal chega... Respondo aos impulsos como um autônomo, deixo o mundo correr ao meu redor como um rio, e me torno uma rocha nesse leito gelado. Sinto que as correntes me envolvem e tentam me carregar, mas resisto com a força comum aos seres imersos em si mesmo: a impassividade. Sei que vou lentamente tomando um formato idêntico ao de tantas outras rochas, perco a origem vulcânica e o destaque dos contornos disformes. Mas paro sempre antes de me tornar areia.

Eis a única forma de concentração que realmente me domina: a imersão. Preso dentro de mim, ganho força para novamente enfrentar as águas. Quando deixo fluir a vida ao meu redor, e essa vida ganha força com o calor das primaveras, esqueço os labirintos e me atiro novamente de cima da cascata. Mergulho ainda mais fundo em devaneios indecifráveis. De lá, nada posso tirar de útil (o ritmo dos meus abismos seria impróprio para compartilhar com os outros), mas volto fortalecido para buscar uma resposta.

O deprimente é que tudo isso também é circular. Se eu não estivesse com tanto sono, talvez a escrita saísse com mais facilidade e dêsse pra seguir mais um pouco. O problema é que o cansaço está tomando conta e a confusão já voltou nessa minha cabecinha de alfinete (friso: a de alfinete é a de cima!!!). Mas vale uma conclusão: cada vez que me levato dessas profundezas - e todo Homem tem as suas profundezas e os seus mergulhos - experimento novamente o caos de pensar, o caos do pensar. Detesto esse estado de incertezas, no qual a única certeza que tenho (e talvez o único alívio) é de que ele é comum a todos os que ainda se perguntam quem somos e o que diabos estamos fazendo aqui...