Anibal
Famequianos da velha guarda recordam o nome do mestre. Pupilos dedicados do curso de Jornalismo trazem para sempre seus ensinamentos diegéticos e fásmicos incrustrados na alma. Poucos, porém, sabem onde anda. Há cerca de um mês, liguei pro Anibal pra saber como ele andava (não estranhem, uma boa conversa é um raro prazer). Cosamos durante cerca de uma hora sobre temas literários - Machado, Qorpo Santo, Sthandal, não exatamente nessa mesma ordem.
Percebi, com certa dificuldade para admitir, que a memória dele está, de fato, comprometida no que diz respeito a acontecimentos recentes. Ainda que tenha recordado meu nome pelo som da minha voz e que estivesse a par dos últimos passos da minha carreira jornalística, alguns dos comentários que teceu continham retalhos de opiniões previamente já expressas em nossas conversas. Nada, no entanto, que diminuísse o prazer da prosa.
Deixo de lado os específicos (guardo-os somente para mim). Revelo, entretanto, duas doses de factualidade: aos que, como eu, já se surpreenderam com a aura de mistério que envolve o professor, trago um ponto para somar ao enigma.
O Aníbal já foi goleiro. Sim, goleiro. Décadas atrás, obviamente, mas com empenho e gosto pelo esporte. Nenhuma carreira profissional, nada que indique um grande destaque em sua atuação no métier, mas bastante ânimo. Vale algumas risadas? Vale... Mas também vale a avaliação do próprio mestre, para quem o esporte de nada serviu. Olhando pra trás, todas as horas passadas a correr atrás de uma bola – ou melhor, a impedi-la de entrar no gol – não ajudaram a entender nem a tirar melhor proveito da vida. Peço que os interessados opinem: para que vale um futizinho? Não dispenso o meu, mas acho que vale a reflexão.
Fato 2: encontrei o Aníbla no Centro na última terça-feira. Me ofereci para acompanhá-lo no almoço, filar uma conversa. Ele passou mal. Levei ele pra frente da Santa Casa, e desde lá não consigo falar com ele por telefone (cai sempre na secretária...). Se alguém tiver visto o bom velinho, faça o favor de me avisar. Estou preocupado, mas sei que não posso fazer nada. Triste isso.
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