Quantas perguntas?

...são necessárias para se chegar a uma resposta?

2.8.06

Ficção

Os olhos dela eram os mesmos de sempre, e ele amava aqueles olhos verdes e redondos como nunca havia amado outros. Por esse motivo, tentava não encará-la de frente. Começou a falar olhando para os cantos, para as bordas da mesa, para as próprias mãos nervosas. Disse que estava cansado das brigas, que não podiam continuar desse jeito, que ambos iriam perder se as coisas não mudasse. Ela repetiu o mesmo com palavras diferentes, com meias palavras que escondiam a reciprocidade desse amor: falou que estava cansada, qua não podia continuar e que ambos iriam perder - mas que era isso que deveria ser feito. Imaginava conhecê-lo melhor do que ele a conhecia, imaginava que o coração estava ganho e que o fim da estrada os levaria a retornar pelo mesmo caminho de onde vinham.

Se ela estivesse menos nervosa, menos irada, teria percebido que algoestava diferente. Mal haviam entrado no bar, ele chamou a garçonete e pediu duas cervejas - o engraçado é que nunca bebia, nem gostava que ela bebesse. Esse gesto insensato escondia o enredo e dava a entender que o diálogo já havia sido escrito horas antes.

Como tantas vezes, ela caiu no jogo covarde de desprezar o objeto amado, de esperar o afago após o esporro. Dessa vez, contudo, não funcionara. E ambos permaneceram calados na busca de alguma palavra, na esperar de alguma declaração que mudasse o destino daquela noite. Nenhum chorava. "Ainda á cedo para lágrimas", pensava ela. "Se choro agora perco o respeito que ainda lhe tenho", refletia ele. Mas ela precisava de provas, e ele precisava de álibis. O silêncio os consumiu lentamente, e em minutos suas cabeças ecoavam apenas medos.

Lentamente, ele esticou a mão para tocar a dela, murmurando que sabia que essa era a melhor decisão. Ela encolheu-se na cadeira como quem sente frio e envolveu-se nos própio braços para esquentar-se. Ambos sabiam que era hora. Ela se ergueu e, com a mão aberta, despejou-lhe toda a ira em plena face. O bar calou-se, ou pelo menos pareceu calado, e o mundo congelou enquanto ele ergueu o olhar para entender o que havia acontecido. Sem mostrar tristeza, sem mostrar remorsos, ela foi embora. Enquanto buscava uma explicação, ele encontrou apenas aquela verdade óbvia que conhecia desde o princípio e que o perseguiria pelo restante de seus anos. Os olhos dela eram os mesmos de sempre...

1 Comments:

At quarta-feira, agosto 02, 2006 1:45:00 PM, Blogger lu castilhos said...

nooossa, eu adorei esta história.
meio familiar talvez, não fosse a cor dos olhos.

ah, sobre a rede de segurança: eu nunca tive. se é melhor ou pior tb não sei. mas enfim, são coisas da vida.

ahh, e nem vem que tu deves ter váááários leitores por aqui. só que eles devem ser tímidos hehehe.

bjooooo.

 

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