Quantas perguntas?

...são necessárias para se chegar a uma resposta?

2.8.06

Estática

Andei lendo a esmo - é o que faço sempre que as coisas começam a ficar excessivamente claras ou confusas. Aos que me conhecem, desnecessário dizer o quanto ainda me pergunto sobre rumos e remos e velas e vultos e vãos. Recentemente, entretanto, enxerguei uma saída...

Tive um dia interessante visitando o Festival de Folclore de NP (por favor, não questionem meu conceito de "interessante". Leiam a história até o fim primeiro...). Como ia dizendo, tive um dia interessante ao visitar o tal festival, mas grande parte desse interesse adveio do fato de ter realizado essa viagem de 4 horas (duas e ida e duas de volta) em um carro ocupado por outros três homens. Tive tempo suficiente para observar quem eram, ou pelo menos quem mostravam ser, e pude assim desenhar os contornos de uma realidade com a qual tive pouco ou nenhum contato: a dos adultos.

A verdade é que reluto em crescer, em fugir do universo de sonhos e fantasias imaturas que ainda me perturbam. Não tenho medo, não me falta força, mas me falta motivação. E era isso que os demais ocupantes daquele carro tinham, o suficiente para me trazer de volta para essa realidade que pesa tanto nos ombros da minha (nossa?) geração. Defendo há aos a existência de um fator social e comum para a desmotivação das massas. Agora, talvez esteja me deparando com o meu prório medo de ser massa. A conseqüência é clara e a razão é simples: o homem não encontra forças para fazer o que quer que seja de concreto na sua vida, caminha com passos inseguros (quando caminha) e se esquiva de tomar as decisões e correr os riscos necessários à sua felicidade; isso ocorre porque ele não sabe o que é a infelicidade.

Não estou dizendo que nossos pais eram todos felizes e que viemos de famílias perfeitas, mas as frustrações e os motivos dessa infelicidade raramente ficavam explícitos. A criança deveria primeiro desmascarar o mundo, descer às fundações e às inconsistências da realidade para, somente então, compreender o que deve buscar e do que deve fugir. E quantas crianças tem a inteligência necessária para fazê-lo? A maioria aceita a ilusão e mergulha nos consumismos antes mesmo da puberdade. E como tirar essa máscara, se o que mais tememos é o que está por trás dela? Ainda que sejamos capazes de arrancá-la, optamos por deixar a máscara intocada e passamos a reproduzir o mundo nos mesmos moldes com que ele nos foi passado. Já cansei de procurar uma brecha na qual fosse possível viver a vida desnuda.

Ok, estou ficando excessivamente depressivo, ou melhor, deceptivo. O homem não me inspira confiança. Quando era mais novo, acreditava nos indivíduos e duvidava das massas. Agora, até os indivíduos me parecem idiotas, mutuamente influenciados numa guerra em escalonação. Já pensou quando essa porra explodir??? Não haverá mais fanatismos, haverá SÓ fanatismos (e talvez apenas um). O homem que não se entregar estupefado à razão da maioria morrerá antes mesmo de proferir resposta. Até lá, espero ter tempo pra falar ainda alguma coisa.

Voltemos aos três homens no carro. Todos tinham sua visão da vida, limitada e direcionada. Compartilhavam certos pontos- gosto por motos, belas mulheres e fotografias -, mas em doses diferentes. Esses pontos os assemelhavam em maior ou menor grau, mas não faziam A diferença. O que os tornava indivíduos interessantes era a capacidade de se prender a uma visão de mundo e concentrar ali as suas forças. As dúvidas e os receios eram pontuais. Nenhum vivia um dilema existencial latu sensu, nenhum desconstruía as perguntas antes mesmo que elas fizessem sentido. Isso me deu vontade de ser diferente, ou melhor, de ser igual do meu próprio jeito. Mas que fazer se o meu cérebro não obedece razão ou lógica, que fazer se eu me curvo apenas diante de um sentimento de maravilhar sobre o qual não tenho controle e que nunca (nunca mesmo) vem na hora e na dose certa?

Se alguém teve a paciência de ler até aqui, por favor me explica o que eu quis dizer...