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13.1.07

vazio

Eu estava assistindo um episódio de X-Files (roubei a caixa da primeira temporada de uma amiga, ou melhor, de um grande amigo que por sua vez pegou emprestado de uma grande amiga sua) e me deparei com uma pequena epifania. Era o décimo primeiro episódio da série, entitulado Lazarus. Porém a história em si influenciou o resultado final muito menos que o meu estado de espírito.

Em um determinado momento, a Scully é sequestrada por um ladrão de bancos que morreu e teve seu espírito transferido para o corpo de um agente do FBI. Traído pela sua companheira, ele está a beira da morte e Mulder busca desesperadamente resgatar sua parceira. Graças a algumas evidências dispersas, eles localizam a região onde a pobre Scully está sendo mantida.

É aí que eles mostram uma externa da casa. Arquitetura tradicional norte-americana, recoberta por tabuões de madeira pintados de branco, porém descascados. Céu cinza em uma manhã de dezembro, uma árvora sem folhas em frente. A rua mesmo está vazia, à exceção de um carro da década de 50/60, estacionado diante do cativeiro.

Não pude deixar de ser tocado por essa imagem breve, exibida por dois ou três segundos. Ela era de uma feiura e de uma frieza que a tempo eu evitava encarar de frente. Claro, foi muito mais fácil fazê-lo através da televisão, mas isso não altera o resultado. Apesar da composição fotográfica, esteticamente trabalhada, e de todos os elementos remeterem às transformações que o homem exerce sobre o meio, havia algo de inumano ali. Havia algo intocado, latente em todos os objetos e trazido à luz pelo estado em que se encontravam. Aquela imagem, extraída do mundo real (pois, ainda que fictícia, era cotidiana), falava diretamente a mim ao expressar os nossos limites, as restrições do nosso poder sobre as coisas físicas, nossa fragilidade em relação à existência mesmo.

A deterioração gradual do mundo, explícita naquela cena congelada por quase um minuto na tela da minha televisão, me fez refletir sobre a importância minguante do homem ante o mundo que ele tanto se esforça para moldar. Não que o processo de reconstrução do ambiente tenha parado ou desacelerado, mas sua continuidade está ligada no automático, em direção a uma propósito que não creio ser capaz de esboçar.

Tá, essa visão é de fato bem depressiva, mas foi o que eu vi. No esforço para erguer seus castelos, carregados de beleza e força – em uma luta para redesenhar o mundo à sua imagem e semelhança –, o homem também lhes atribui seus defeitos e suas fraquezas, criando remanescências futuras e monolíticas do seu próprio vazio.

Espero que vocês tenham entendido a piada :P