Quantas perguntas?

...são necessárias para se chegar a uma resposta?

31.5.07

Fechado para reformas

Grêmio 2 x 0 Santos - Tá feliz, Ítalo?

Agora falando sério... Apesar de que não perdi o impulso pela escrita, percebi que me falta constância temática e um pouco de coerência pra manter essa blog funcionando. Contos, crônicas, relatos breves e uma pitada de jornalismo não se misturaram como deveriam, ou pelo menos não como eu gostaria. Só o que falta é me chamarem de eclético. Me declaro culpado das últimas acusações: transformei essa joça em uma espécie de diário, e isso não me serve.

Vou dar uma parada para pensar em reformulações - talvez uma parada definitiva. A verdade é que eu queria um confessionário, um local em que eu pudesse ser escutado e compreendido. Queria leitores amigos e atentos, curiosos por decifrar minhas entrelinhas. Mas eu não poderia esperar mais do que oferecia, e andava oferecendo pouco.

Resumindo: Hasta la vista y me escriban si lo quieran. Se aparecer uma boa idéia, quem sabe eu volto?

6.5.07

Não sei porque estou escrevendo isso

Anoite passada foi de insônia. Não só não preguei os olhos, li a noite inteira (pelo menos duas horas de coisas chatas) achando que assim ia pestanejar e nada! Depois de assistir um filme, consegui dormir exatas 2h47min (extimativa com mínima margem de erro) e fui trabalhar. Agora, perco um tempinho para botar umas idéias pra fora.

Antes de continuar, um aviso aos meus leitores periódicos (sei que tenho alguns freqüêntes, mas deles não posso pedir mais do que já me dão): leiam o meu post anterior e critiquem. Fazia tempo que não escrevia ficção e e mesmo as mais árduas palavras podem ser produtivas par me dar vontade de fazer mais (e, se não gostarem, de fazer melhor). acho que vou fazer um break nas novas postagens até que tenha recebido comentários naquele contículo.

Eu li com uma semana de atraso dois textos de Psicologia Social que foram tema de um debate em sala de aula. Acompanhei mudo, mas curioso. Agora, não só não concordo com o que foi dito, como penso que a única visão crítica que ouvi naquele dia foi da minha colega Rita, que ao oferecer uma leitura diferenciada do material foi posta de volta nos eixos pelas cabeças sempre basculantes da turma.

O texto primeiro, sobre identidade, me pareceu até bem instrutivo. Apesar de alguns lapsos de linguagem (meus, talvez) para estruturar o que se entendia por identidade e seus constituintes, a exposição era bem feita e atingia direto os pontos a que se propunha - que, ao meu ver, eram o "vício" por uma identidade(s) padronizada(s) com que possamos nos estruturar e o medo de sermos destituídos dessa(s) mesma(s) identidade(s). A grande falha para mim, chave para a crítica que quero fazer ao segundo texto em outra ocasião, é que esta análise estava fechada por um cabresto, desprovida de fundamentação histórica (ainda que em nossa própria cultura seja fácil validá-la) e de propósito ou formas práticas de aplicação.

Vejamos os postulados do artigo: 1) Optamos por padrões de identidade para nos adaptarmos à vida em sociedade; 2) A sociedade pós-moderna exige que convivamos em muitos grupos, e isso nos leva à adoção, por vezes, de diversos padrões que intercalamos em uma e outra situação; 3) Existe uma tendência a se apropriar do padrão com tal intensidade que deixamos de desenvolver um perfil próprio e nos contentamos com a cópia; e 4) Quando nos deparamos com situações sociais para as quais o padrão não oferece resposta, somos áflingidos por um medo amplo e irracional, que nos envolve em crises (de pánico, de ansiedade?) nas quais parecem desmoronar até mesmo as nossas funções autônomas (respiração e batimentos cardíacos). [Acréscimo meu: 5) Em casos extremos, não é nem mais necessária uma situação social real para ocasionar tais crises, basta a conscientização ou a fantasia dessa impotência do sujeito.]

O problema da fundamentação histórica consiste em presumir que em sociedades menos complexas o desenvolvimento da identidade não fosse igualmente complexo. Claro, temos menor número de padrões e, mais importante, esses padrões por si próprios não precisam conter tantas respostas qt nossos padrões atuais. Ainda assim, entender a complexidade comportamental enquanto um problema de número de elementos seria simplismo. A lógica apresentada no artigo prova exatamente isso: um padrão de comportamento "viciante" independe do número de respostas que ele te dá; depende da relação entre essas respostas e as situações sociais às quais tu é apresentado. Uma sociedade mais simples condiciona menos comportamentos (em número absoluto), mas apresenta um número relativamente proporcional de situações-problemas.

Trata-se de uma suposição, pois não realizei nem tenho conhecimento de nenhum tipo de experimento sobre essa relação. Vale ainda dizer o excesso de estímulos na construção da personalidade, por si só também pode causar problemas. Acredito apenas que eles sejam de outra natureza.

Quanto à aplicabilidade: uma identidade "viciante", nos moldes apresentados, é aquela que condiciona comportamentos demais e acarreta riscos devido à sua baixa maleabilidade. Esses riscos e condicionamentos, porém, só podem ser observados comparativamente, ou seja, necessitamos colocar pelo menos dois padrões lado-a-lado. E que modelo tomar por base? Como escolher de forma justa um padrão de comportamento que seja melhor que os outros? Qualquer decisão realizada nesse sentido será, invariavelmente, antropocentrista e, ainda por cima, irá contra os pilares da psicologia social e da esquizoanálise.

Resta uma única saída, paralela, e que não foi empreendida pela autora, que quase nos tirou do caminho. Uma análise contextual, com os padrões de comportamento sendo revistos à luz das complexidades do mundo no qual tentam se encaixar. Isso é social, isso é esquizoanálise.
(vou dar uma remodelada nesse texto embreve)

4.5.07

psicologia social-dialética (alguém sugere um título)

A empresa havia contratado uma psicóloga há pouco mais de dois meses. Cheia de vida nos seus 29 anos, ela não teve dificuldades em se adaptar. Preparou um cronograma para entrevistar os funcionários - o que por si só levaria alguns meses - e começou a fazer entrevistas individuais, reservando sempre uma parcela do seu horário para aqueles que quisessem visitá-la para se
abrirem por conta própria. Foi num desses momentos, geralmente silenciosos e que lhe permitiam compenetrar-se na redação das correspondentes ao dia, que uma batida de leve em sua porta - quase inaudível - veio mudar a sua vida.

-Entra - respondeu a meia voz, incerta de que houvesse alguém querendo falar com ela. O trinco girou veloz e a porta se abriu apenas alguns centímetros, esitante, estancada rente ao muro de idéias que deveria ser transposto para entrar na sala. Mesmo sem saber o que lhe aguardava, ela sentiu uma certa curiosidade por aquele desconhecido. Calou-se e esperou que ele se decidisse.

José Maria Meneses acompanhou o desvelar da sala conforme empurrava a porta: o carpete cor creme desprovido de marcas, as paredes azuis sem janela e com nuvens brancas pintadas para diminuir a desolação, uma pequena estante abarrotada de livros que ele pensou estarem cheios de respostas para as suas perguntas. Teve medo da mesa – que pertencera ao patrão e fora cedida após a compra de outra maior e mais nova –, mas as feições suaves da moça que se lhe
sentava detrás eram simpáticas e convidativas. Ela sorria de leve, feliz de que a procurassem.

- Olá! - cumprimentou a psicóloga tão logo viu seu rosto.

- Boa tarde, senhora. Eu tava querendo lhe fazer uma pergunta...

- Claro. Quer sentar? - com um gesto largo, ela apontou a pequena cadeira estofada que havia do outro lado da escrivaninha.

João deu exatos quatro passos e prostrou-se atrás da cadeira. Apoiou no encosto uma de suas mãos calejadas enquanto coçava o peito em um gesto de óbvio desconforto. Balbuciou apenas:

- Dona...

O silêncio que se seguiu foi breve, mas para evitar constrangimentos desnecessários a psicóloga resolveu falar:

- Dona não. Pode me chamar de Raquel.

Ele a encarou nos olhos enquanto ela falava, mas voltou a fitar o chão antes de dar continuidade ao diálogo. Como chamá-la era o menor de seus problemas.

- Dona Raquel... Eu queria saber como é que eu faço pra desligar isso daqui...

Com o braço direito erguido na altura da cabeça e o dedo em riste, ele golpeou três vezes a própria têmpora. Depois passou a mão pelos cabelos negros e retornou-a à posição inicial, sobre o peito, como a impedir-lhe que o coração saltasse fora.

Foi apenas ao ver esse gesto que a psicóloga reparou nas suas feições. A testa marcada e a barba crescida escondiam a idade daquele homem que não deveria ser muito mais velho que ela. Dera-lhe inicialmente uns 45, mas percebeu que não eram os anos que o haviam envelhecido.

As palavras que o empregado proferira, entretanto, não lhe chegaram bem. Tinha dificuldade em compreendê-las e aceitá-las. Afinal, sua profissão servia exatamente para o contrário - ensinar os homens a se apropriarem de sua própria identidade, transformá-los em sujeitos capazes de levar sua própria vida e não serem manusiados como objetos.

- Se fosse assim tão fácil - respondeu -, a gente ficaria em falta de pessoas inteligentes. E além disso, tu tem certeza de que assim tu ficaria feliz? Não preferes botar para fora o que está te incomodando?

- Dona Raquel... eu ouvi falar numa tal de lotobomia...

- Isso não se faz mais e, de qualquer forma, não tem volta. Tu não ia só parar de pensar, tu ia perder a vontade de fazer qualquer coisa, ia perder todas as chances de ser feliz. É quase como uma morte em vida.

- Morte eu não quero não...

- Senta então. Vamos conversar um pouco.

Ele puxou a cadeira e se sentou com as mãos sobre os joelhos, pernas fechadas, de forma que a lembrou um pouco uma criança. Ela se levantou sobre seu olhar atento e fechou a porta da sala, voltando para trás da mesa e puxando a cadeira para o lado. Não se aproximou, mas assumiu uma posição em que não havia mais nada a separá-los. Pediu então que ele começasse a falar.
As palavras vieram primeiro sófregas, depois desabaram com o peso das tristesas que retinham - como uma barragem que se deixa vir abaixo ante a pressão da água. Entretanto, não chorou, mantendo a vista mareada sempre fita nos próprios pés. Contou do tamanho diminuto do barraco, dos dois filhos pequenos e do terceiro que morreu antes do parto, da esposa que ajudava como podia e do segundo emprego, à noite, com que tentava sustentar a mãe e os quatro irmãos. Disse que não aguentava, mas que não poderia abandonar nenhum deles. Com a corrida constante, tinha deixado até de freqüentar a igreja e não conseguia mais confiança nesse Deus filho da puta que o botara no mundo. Desenhou o mapa do seu labirinto e mostrou que não tinha saída - não lhe restava tempo para se divertir, para estudar, para mudar de vida; todas as horas do seu dia eram incondicionalmente distribuidas entre obrigações que lhe permitiam se entregar aos que ele amava. E essa amor, que deveria ter bastado, corroia a si mesmo e já não lhe permitia pensar. Sofria por saber que a vida não lhe reservava novas oportunidades de viver.

Em silêncio, a psicóloga buscava uma resposta. Sabia o que deveria dizer, sabia que poderia receitar-lhe uma saída, falar que ele carregava em seus ombros um peso demasiado grande, que sua mãe e seus irmãos deveriam deixar assumir a responsabilidade por suas próprias vidas, que ele deveria negar aos seus filhos o gosto de uma infância doce a fim de dar-lhes uma maturidade
saudável. Mas calou-se.

Ela percebeu então que sua psicologia não se aplicava. A metáfora tornara-se realidade. O empregado pagava pelos crimes de Atlas e Prometeu. Nascido em um mundo que não lhe ofereceria sustento, João se dispôs a carregá-lo nas costas. Cercado por dúvidas de todos os lados, ele ofereceu o seu amor como única certeza. Junto a tantos outros rostos sem nome, cujo arco do sorriso havia sido retesado pela má sorte, ele tornava a vida possível para aqueles
ao seu redor.

Raquel sentiu as faces calentadas por duas lágrimas que desceram, gêmeas, até se fundirem na altura do queixo. Nunca havia se deparado com alguém tão forte. A única resposta em sua mente era pedir-lhe para que amasse menos, para que fosse mais fraco. Sentia que somente a covardia havia de deixá-lo mais feliz. Mas não era uma escolha que podia fazer por ele.

João ainda aguardava uma resposta quando lembrou da hora e de que deveria ir. Teria que
fazer hora-extra para recuperar o tempo gasto naquela sala. Sabia que ela o havia ouvido, e escutava naquele silêncio um eco do seu desespero. Servil como sempre, agradeceu-a e foi até a porta. Não levantou a vista um momento sequer, pois imaginou que ela pudesse ter chorado e não quis constrangê-la.

Ela conseguiu falar apenas no último instante:

- Eu posso te ajudar a ser uma pessoa mais feliz. Só que não posso fazer de ti uma pessoa melhor. E acho que não foi pra isso que tu me procurou.

De costas, ele respondeu um rápido "obrigado".

-Por quê? Tu não tem por que me agradecer. - respondeu Raquel.

Sem se virar, João esboçou um leve sorriso. Mesmo sem saber, ela havia desatado um dos nós da sua sina:

- Agradeço à senhora por acreditar que eu ainda tenho essa escolha...

3.5.07

sonhos estranhos

Durante essa semana tive três sonhos estranhos - dois deles terminavam comigo beijando uma garota (meninas diferentes, claro). O engraçado é que os sonhos envolviam peripécias sentimentais, mas que no fim das contas não compensavam. No primeiro, eu me preocupava com a menina número 1, cuja casa estava sendo assaltada, e ia tentar ajudá-la. Mas a casa estava vazia e eu temia pelo pior. Depois ela aparecia e me dizia que estava tudo ok (beijo 1). Já no sonho nº2, eu estava virado num poço de carência. A menina passava o tempo todo fazendo uma cara de quero-mas-não-posso, me abraçava com receio e, por fim, se entregava sem remorsos (beijo 2). Quem se sentia mal era eu, por razões que prefiro deixar obscuras.

Os dois sonhos tinham um ponto em comum que eu ainda estou tentando explicar: ambas as meninas beijavam mal.