Quantas perguntas?

...são necessárias para se chegar a uma resposta?

26.2.07

Oscar + Letra e Música + Man of the Year

Ontem assisti ao Oscar, hoje acompanhei "Letra e Música" e "Man of The Year". Falar de todos vai ser difícil (até porque não tenho recebido muitos comentários, e isso me faz pensar que os posts estão longos e chatos), mas vou resumir um pouco.

O Oscar não foi de todo "previsível". As categorias que já estavam ganhas (Ator, Atriz, Diretor) valeram pela cara dos derrotados. O Peter O'Toole era um retrato da mais pura e continuada tristeza, mas talvez tenha sido bom ele não ter ganho (era capaz de ter morrido do coração). Na sua oitava indicação, o inesquecível "Lawrence da Arábia" devia ter trazido no bolso um discurso - "just in case", teria dito caso ganhasse. Imagino as piadas irônicas que escreveu, como todo bom inglês, a expressão de surpresa e (quase) descaso, treinada há mais de três décadas diante do espelho para esta inegável possibilidade. Me pergunto se este se parecia um pouco com os discursos anteriores, que levou dobrados junto ao peito e que lá conservou até o final da cerimônia, para jogar fora quando ninguém estivesse olhando. Me pergunto se fantasio demais sobre tudo isso, ou se de fato as suas indicações lhe renderam um Oscar e três quintos, bem como a Academia resolveu premiá-lo ano passado com uma estatueta honorária. De tudo isso, tenho certeza apenas do nó na garganta, um segundo pomo de Adão que ele ostentou como poucos homens, sem se render a uma lágrima sequer. Nada de "bom" velinho - um velinho e tanto, isso sim.

Prêmios: Dreamgirls mereceu, Babel merecia mais, PM Sunshine mereceu, L do Fauno mereceu, Cartas merecia mais, Os Infiltrados NÃO mereceu, Al Gore mereceu (mas capitalizou demais em cima), A Rainha mereceu, F da esperança merecia ao menos 1. No resto me meto só se quiserem perguntar.

"Letra e Música" é engraçado (bastante), e romântico se você estiver desesperado a ponto de acreditar no Hugh Grant. Vale pelas risadas e pela forma como os tradicionais clichês do filão foram trabalhados - alguns à perfeição, outros servindo de piada mesmo. Destaque para a metáfora que vale o filme: "Numa música, a melodia é como o sexo, a atração física. As letras são o conteúdo, pelo qual a gente se apaixona".

Já "O Homem do Ano" é difícil de classificar de forma simples. Se tivesse três horas de duração, poderia ser a melhor comédia que eu vi desde "Borat" - tá, deixa eu reformular... - e a segunda melhor que eu vi desde muito. As piadas não são todas originais, mas são muito boas.

O defeito número 1 do longa é que as cenas sérias são realmente sérias. Boas mesmo, boas até demais. A atuação de Laura Linney corta o clima de risada e é preciso um tempinho para achar graça outra vez. Em compensação, deve-se ter em conta que esse defeito deriva de outros dois, bem piores (partindo do pressuposto, claro, que uma boa atuação nunca é responsável por estragar um filme).

O roteiro não está à altura da história; não é que ele seja ruim, muito pelo contrário. Mas ele não dá espaço para o desenvolvimento de certos aspectos, e passa tanto a noção de superficialidade quanto de seriedade desnecessária. Sem a contraparte comédia, a posição delicada em que a personagem de Linney se encontra ficaria plenamente exposta, mostrando pequenas lacunas e falta de devidas conclusões. Sem a contraparte séria, o resultado seria um pastelão sem pé nem cabeça.

O resultado é a impressão de que a história teve de ser drasticamente reduzida por falta de verbas ou por medo de uma duração excessiva. A única outra explicação plausível (que não refuta a primeira, mas lhe é complementar) é uma falha de direção, que exigiu ou permitiu profundidade demais para certos personagens, deixando outros na sombra.

Quem quiser culpar a edição também é bem vindo, mas acho que o pobre coitado ainda tentou botar ordem na casa, com certo sucesso. Como eu disse, talvez com três horas de filme ele pudesse ter dado um jeito.

uma verdade triste

Tum... Tum... Tum...

Meu ouvido sonda teu seio como um estetoscópio – buscando na tua cadência uma arritmia.

Tum... Tum... Tum...

Fico a procura de algo que seja verdade, que dissipe a ilusão.

Tum... Tum... Tum...

Mas há somente o silêncio entre duas batidas.

Tum... Tum... Tum...

20.2.07

Carnaval?

Não fiz nada (ou quase nada) no meu carnaval. Me diverti na noite de sexta, e sábado tomei uma cerveja com meu irmão, mas o que eu quero dizer é que, a não ser pela ausência de pessoas, nem dava pra saber que era carnaval. Os bares estavam vazios, muitos deles inclusive fechados. Sobravam lugares no estacionamento da empresa. Meu número de leitores diminuiu (sim, até na internet tinha menos gente).

Hoje, entretanto, espero escapar da minha natureza soturna e "pular" carnaval. Se tudo correr de acordo com os planos, saio em uma hora para o Cabaré do Beco com colegas de trabalho. Festa estranha com gente esquisita, nada mais, mas espero rir um pouco e me divertir. Se acordar com sono amanhã, já valeu a pena... No fim das contas, o que importa é viver um pouco, mesmo que eu não esteja no clima nem pra isso.

Deixo as reflexões pra depois, bem como as narrativas. Por hora, retórica, retórica, retórica!

19.2.07

Labirinto do Fauno

Assisti ao filme ontem, com meu irmão e sua namorada, e gostei muito. Fora o fato de que era dirigido pelo Guillermo del Toro e que estava concorrendo ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, não sabia muito mais sobre a produção. Achava que se tratava de uma história para crianças... Esse é, na verdade, um conto de fadas para adultos, uma fabula de duas histórias, em cuja beleza de uma contrasta com a escuridão da outra.

Antes de entrar na história, um breve comentário sobre o diretor. Faz anos que vi a "Espinha do Diabo". Gostei bastante, principalmente por ser um desses filmes que se destaca do contexto em que foi produzido e por agregar uma agenda totalmente diferente ao gênero ao qual se encaixa. As crianças, o orfanato (ou será conservatório, nem lembro mais...) e o terror como irmão do drama – uma mistura realista, intimista e honesta. É verdade que "Hellboy" não agradou a todos, fãs e aversos de quadrinhos tiveram opiniões diversas e nem sempre favoráveis. Mas supera de longe essas produções que investem num show de efeitos especiais e deixam de lado o fluxo da história (ainda que nesse caso não houvesse tanta história mesmo).

O elo entre os três filmes é a temática fantástica/fantasiosa e o predomínio do campo da imaginação ("Em 'Hellboy' também???" - é, principalmente em "Hellboy", pois esse é um filme que não se degusta sem muuuuuita imaginação). Na "Espinha...", a imaginação aparece como elemento cimento de uma realidade dissociada. O fantástico preenche as lacunas, pune os criminosos e oferece sentido e salvação aos que o fazem por merecer. "Hellboy" é uma versão mais infantil dessa analogia, pois é uma filme de ação E um filme de super-herói - que mais esperar?

O "Labirinto...", em compensação, consegue manter separadas as trilhas da realidade e da imaginação, ambas correndo em paralelo ao longo do filme inteiro. A viagem de Ofélia pelo mundo do Fauno é uma construção impecável, porém cuja veracidade não nos é oferecido sob nenhuma perspectiva além da dela própria. A atmosfera sombria que compõe o microcosmos da história, em compensação - a luta entre o exército e os rebeldes, a barbárie mal contida do seu padrasto, a fraqueza da mãe ante uma gravidez difícil ,- é imponente, e contextualiza inclusive a fábula da "princesa do submundo".

Quem ver o filme vai entender que a brutalidade do mundo exterior é de fato chocante (com direito a uma cena que me lembrou o início de "Irreversível", nada, nada agradável...). Essa atmosfera põe em relevância as cenas de beleza da trama fantástica e atenua o terror subjacente à jornada imposta pelo Fauno, mas não prova a existência de magia ou de fadas.

Lembro de um comentário que certamente teria de ouvir da boca de uma certa ex-namorada minha: "Bah, não gostei. Tudo que ela fez foi alucinar o filme todo! Tu não acreditou em nada daquilo, né?". Não sei, não sei. Acho que o trunfo do filme é deixar essa possibilidade alucinógena em aberto, mas criando espaço com seus pequenos mistérios para que Ofélia tenha realmente vivenciado aquele universo de sonhos.

Ainda que tenha tudo sido falso, como não se encantar com o triunfo da imaginação diante de um mundo assim tão obscuro? O que importa, no fim das contas, é que ela acreditou, que foi atrás desse mundo surreal e nele encontrou sua realização.

17.2.07

Allegro, ma non troppo

J'ai passé la journée a penser sur ma vie, et maintenant que je m'assois devant l'ordinateur pour ecrire, um misterieux envie de m'evanuir prend compte de moi. Quoi faire? Je ne suis pas nait pour surire au hasard, pour dire de mots gentils sans raison. Mais je n'ai pas non plus l'envie de detruire un monde si beaux, avec lequel je m'émerveille en silence. Pour l'instant je me tais, en ecutant a peine, pour chercher le sens de ce rève insansé.

16.2.07

Iwo Jima

Chega hoje aos cinemas de Porto Alegre o último dos indicados ao Oscar de Melhor Filme deste ano. "Cartas de Iwo Jima", de Clint Eastwood, concorre a quatro estatuetas, incluindo ainda Melhor Roteiro Original e Melhor Diretor. A produção conta a história dos soldados encarregados de defender a ilha, mostrando o lado japonês de uma batalha decisiva para a vitória norte-americana sobre o país.

Em meio ao trabalho árduo para defender a posição estratégica de Iwo Jima, os soldados passavam o tempo escrevendo cartas para suas famílias – muitas foram esondidas durante os quase 40 dias de confronto, por não poderem ser entregues. Desenterradas anos depois, as mensagens enviadas pelos homens da ilha abrem as portas para um mundo tocante de intimidades e confissões.

Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que se trata de um filme de guerra: toda a poesia da trama só será aproveitada por quem puder manter os olhos abertos diante dos horrores ali retratados. Os sentimentos dos soldados e suas trajetórias individuais tampouco farão sentido até se entender o seu sofrimento. São os pré-requisitos do gênero.

Nesse sentido, Eastwood não oferece nada de novo. Seu grande mérito resulta da reconstrução da perspectiva japonesa em um conflito histórico, no qual o inimigo era ninguém menos do que os Estados Unidos. É o fim de seis décadas de maniqueísmo, ou pelo menos um grande passo para se chegar lá.

A produção foi filmada em conjunto com “A Conquista da Honra”, em que Eastwood narra o lado norte-americano do confronto. As duas histórias seguem linhas diferentes, e existem independentemente uma da outra. Ainda assim, oferecem significados complementares.

O primeiro longa, que também está em exibição nas salas da capital gaúcha, expõe e critica a postura bélica dos Estados Unidos, bem como a ilusão de glória que o país tenta vender ao lançar os holofotes sobre seus “heróis”. De carne e osso, os soldados apresentados na produção vivem os altos e baixos de sua fama efêmera, questionando os valores que supostamente simbolizam.

É em “Cartas...”, no entanto, que os ideais se tornam palpáveis, encarnados nas ações de homens que representam integralmente aquilo em que acreditam. Seja no resmungar constante do descrente Saigo, cujo único pensamento está em conhecer a filha recém-nascida. Seja na estratégia militar proposta pelo intrépido general Kuribayashi, para quem qualquer esforço será válido se consequir ganhar um dia de paz a mais para o Japão.

Juntos, os dois filmes criam um retrato amplo do homem em seus extremos. Não está em questão o porquê do conflito, e mesmo quem deveria ganhar ou perder a batalha – as engrenagens da guerra são deixadas de fora. Importam apenas os seres humanos, bons ou maus, covardes ou corajosos, presentes em ambos os lados do confronto.

Retrato bem feito

A opção pelo idioma japonês, que confere credibilidade à história, trouxe algumas vantagens e desvantagens para a produção. No Globo de Ouro, "Cartas..." concorreu e levou o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro, pois a escolha da língua implicava na mudança de categoria.

Obs: vou continuar o texto no jornal para publicação... quem quiser ler mais vai ter que comprar O Sul!

15.2.07

Um grande ridículo...

Vim correndo para casa me esconder do mundo e deixo aqui o relato da minha desventura.

Acabo de dar aquele que foi (e provavelmente será) o maior fora da minha vida. Não fui recriminado por isso – creio que tampouco serei –, mas me senti o maior dos idiotas nesse quadrante do universo. Apesar disso, encerro aqui toda e qualquer manifestação de auto-piedade. Os fatos são sérios demais para isso.

Ontem morreu o pai da minha chefa. Cheguei no trabalho na hora habitual (30 minutos atrasado). Percebi que ela não estava lá e presumi que tivesse ido almoçar. As minhas páginas estavam sobre a mesa e todos trabalhavam normalmente, mas havia um estranho silêncio pela redação. Um silêncio suspeito.

Quando percebi que as coisas sobre a mesa da minha chefa não eram dela (a bolsa ao lado do computador, o casaco sobre a cadeira...) imaginei o que devesse ter acontecido. Seu pai andava mal há algum tempo, e, por mais que ela não falasse muito sobre o assunto, era comum vê-la afundar-se no trabalho com os olhos avermelhados. No dia anterior, como em outros, percebi que havia algo errado e perguntei se ela estava bem. Pergunta idiota.

Hoje era o velório, em Cachoeirinha. Me disseram que era às 10h30. Não sei, posso ter entendido errado. Cheguei às 11h pensando em dar um abraço e ficar para o enterro. O caixão já estava sob a terra, e os coveiros jogavam terra por cima.

Nunca tinha ido a um enterro, e confesso que tinha certo receio. Mas chegar atrasado foi péssimo. Imperdoável. Quase fui embora sem dizer nada, mas esperei alguns minutos para dar meus pésames. Não dei. Dei um abraço, mas não soube o que dizer.

Saí correndo junto às pessoas que debandavam, por mais que quisesse permanecer um pouco mais, mostrar o respeito com que havia faltado. Não pude por causa da vergonha.

No caminho de volta para Porto Alegre, passei por um caminhão que levava a seguinte frase: "Vivendo na ilusão – Saudades do papai". O sol e o vento que batiam no meu rosto pela janela me mostraram que era o contrário. A ilusão é de quem não sente saudades, de quem não chora pelos que se vão. A dor e a perda fazem parte da vida, mas no meu percurso dessa manhã passei bem longe dela. Toquei-a apenas, e fiquei triste por não saber compartilhar a tristeza dos outros.

10.2.07

Antônia

Liguei o meu computador para escever um comentário sobre "Antônia", filme brasileiro que chegou às telas nessa sexta-feira. Preciso entregar amanhã, e escrevo novamente no blog para aproveitar o ânimo. Mas antes deixo um pequeno protesto: talvez pela baixa repercussão, talvez pelo cinema nacional ser fortemente desacreditado pela minha editora, a matéria foi empurrada de sexta pra sábado e de sábado para domingo. Isso não é nada, nada bom mesmo. Especialmente porque agora eu tenho apenas meia página para falar de um filme que está recebendo tratamento de uma produção ruim, mas nessa meia página acho que mal vão caber as qualidades da produção.

O filme acompanha as dificuldades de quatro jovens para se manterem unidas e alcançarem o sucesso através da música. Preta, Barbarah, Mayah e Lena têm o talento necessário – vozes invejáveis, originalidade criativa e personalidade –, porém precisam conquistar o seu espaço ao mesmo tempo em que se confrontam com as dificuldades da vida na favela.

Apesar da premissa batida, que desanima logo de cara aos mais céticos, a produção consegue apresentar uma história agradável, explorando os problemas das protagonistas sem recorrer ao melodrama. Com uma abordagem intimista, utilizando recursos de documentário (câmera livre, ângulos na perspectiva de um observador presente, iluminação natural etc), o longa segue a visão de cada uma delas, privando-se de oferecer uma moral pronta.

A essência do filme se encontra além do apelo que as atrizes conseguiram atingir entre os espectadores adolescentes. Ainda que todos os elementos para um conto de fadas contemporâneo estejam presentes, falta a superficialidade e a visão fechada que se esperaria de um filme voltado para o público infanto-juvenil. Em uma escolha interessante, a diretora Tata Amaral optou por explorar esses acontecimento através das reações emocionais dos personagens, criando um foco dependente da identificação do espectador.

O tom de drama da narrativa é centrado na insistência das meninas em cantarem no seu próprio estilo (uma mistura de rap com pop e pitadas de mpb), na luta para se fazerem ouvir e mesmo no esforço pela sobrevivência diária. A prisão de Barbarah, o espancamento de seu irmão, a gravidez de Lena e as demais peripécias da trama compompletam a temática adulta, numa busca que tampouco será concluída com o tradicional "felizes para sempre".

A falta de conclusões representa um dos principais defeitos do longa, poie ele sugere lacunas demais. Talvez essas pudessem ser preenchidas pelos quatro episódios de "Antônia" exibidos previamente na TV, ou pelos próximos quatro em fase de produção. Ainda assim, a história perde parte da beleza pelo que deixa em aberto – como se fosse um recorte incompleto da realidade que se dispõe a resumir.

Duas qualidades, porém, fazem de Antônia uma aternativa interessante para as telonas. A ótima atuação de Thaíde como o hilário empresário Marcelo Diamante é um show a parte. Malandro, simpático e (aparentemente) bem intencionado, ele faz as vezes de quinto elemento no quarteto de meninas.

O outro ponto alto são os diálogos. No todo da película, a comunicação se dá quase sem palavras. Apesar de alguns belos momentos narrativos e do lirismo que se pode encontrar nas músicas, os personagens abrem a boca para dizer apenas o necessário – às vezes menos – e com isso acabam por transferir o diálogo para outra esfera: os pequenos gestos, a naturalidade das interjeições e das repetições, a impossibilidade de dizer o que quer que seja. Graças a este recurso, "Antônia" conta sua história com um realismo simples e natural, capaz de surpreender e fazer pensar.

9.2.07

Living la vida loca/Dias difíceis

Esta é provavelmente a primeira e última menção que farei ao Ricky Martin. Foi involuntário, mas a frase voltou quando eu estava buscando as palavras para explicar minha última semana. Uma semana interessante, cheia de programas culturais - dois teatros, quatro cabines de imprensa, mais três filmes na telinha e dois livros (Neve e Críton). Além disso, deixei meu coração dar algumas voltas, tentando encontrar sentido para o meu jeito de agir - e, mais importante, para o meu jeito de desejar. Não vou entrar nesse mérito diretamente, mas deixo que vocês leiam as linhas e entrelinhas restantes para tirarem suas próprias conclusões.

Nesse momento, estou assistindo uma versão de "Rocky Balboa" em francês, "property of MGM studios". C'est drôle, ça c'est sûre! Mas deixemos isso de lado. Passei a semana correndo para fazer programas legais, me divertindo horrores, porém sempre envolvido pelos rumores dos meus pensamentos. E esses pensamentos desregrados não me permitiram aproveitar por completo, nem me deixam produzir tanto quanto gostaria. Passei mais tempo tentando encontrar uma resposta para conciliar trabalho/estudo/projeto de vida do que tomando ações ou botando pra fora o mar de idéias que está entalado na minha garganta.

Gostaria de ter escrito uma resenha para cada um desses filmes que vi. Analisado, discutido, explicado. Botado a prova o meu conhecimento e não simplesmente deixado ele mofar nessa minha cachola paralizada pela estupefação estética. Me deixo hipnotizar pelo belo, pela idéia do belo, e assisto a uma distância segura, perdendo a chance de interagir. Sou, em suma, uma dessas pessoas que sente em excesso - e não raro perco a chance de viver por isso.

Esse não é o momento para lamentações. Na verdade, acho que não vou me dar ao trabalho de lamentações tão cedo. Mas realmente tenho de superar esse medo (e essa é uma palavra que me envergonha, mas que não consegui subtituir por nenhuma outra) de viver a vida a sério. Posso lidar com a complexidade da vida, mas me apavoro ante as suas encruzilhadas. Fico tão receoso com a chance de tomar o caminho errado que não tomo caminho nenhum.

4.2.07

visitas malucas

Procurem no Google e vcs me acham:

#vizinha trepando 304

#sthandal [o certo seria stendhal]

#jornal primeira mao maquina retilinea

#tirar cola de jaca da pele

Pois é, tem louco pra tudo...

Para onde

Passei o dia inteiro preocupado em botar ordem na cachola. Pensei sobre o curso de psicologia, sobre o meu trabalho e a possível mudança de função. Limpei a piscina, dei uma arrumada no quarto, assisti a Diamante de Sangue. Tudo isso com a cabeça girando...

Diante de um mundo de possibilidades, sempre tive dificuldade em escolher. Ter de optar entre os futuros ao meu alcance, entre diferentes profissões, entre churrasco e macarronada. Não que eu não saiba o que eu quero, não é isso... Também não sou incapaz de escolher. Meu problema é que insisto em pensar nas escolhas que não fiz, em tudo aquilo que dispensei ao optar por alguma coisa. Eu não olho para o "meio-copo vazio", eu olho para as garrafas que acabei deixando de comprar. Tamanho o meu medo de perder a possibilidade, que prefero fugir das escolhas e acabo não oferecendo certezas mesmo quando as tenho.

Estou agora com 23 anos e olho para o que conquistei. Um diploma, um emprego interessante, de baixa remuneração porém com certas vantagens, uma bagagem cultural invejável, uma vaga numa universidade conceituada e uma gama de conhecimento suficientemente grande para levar a vida sem cair nas suas armadilhas convencionais. Não tenho ainda fama ou sucesso, não adentrei o campo do fantástico ou do incrível. Fiquei no "interessante", beirando ao comum.

A verdade é que há duas coisas que me perturbam neste momento. A primeira é que sei do que sou capaz (no bom sentido) e me pergunto em que direção devo concentrar minhas forças para obter o que quero. A segunda é que existe uma razão simples para eu não ter respondido essa pergunta, e essa indecisão precisa acabar.

Resumindo: porque eu não consegui me decidir sobre que caminho trilhar?

A resposta para essa pergunta diz muito sobre mim. Sei mais sobre a felicidade – aquilo que ela representa pra mim – do que a maioria das pessoas. Em compensação, durante toda minha vida me acostumei a procurá-la e estudá-la. Com breves exceções, ainda tenho pouca experiência em alcançá-la, em fazer os sacrifícios necessários para torná-la real.

Sei vivenciá-la nas pequenas coisas, e sei que para isso basta um estado de espírito e um olhar diferente (o mundo através dos meus olhos é geralmente bem bonito). Ainda não me tornei insensível às grandes causas, e consigo me preocupar com problemas sociais e políticos (mesmo que não lhes dedique muito tempo, por saber que atualmente não posso fazer muito). Me falta apenas a atitude, a perspectiva consciente de que eu posso e devo continuar lutando. Incessantemente.

2.2.07

Um sonho elaborado

Fui ao teatro na quinta-feira. Sozinho. Era uma peça que eu queria ver fazia algum tempo, dessas que ficam em cartaz por apenas três dias na programação do Porto Verão Alegre. Recebi o release para o roteiro cultural havia quase um mês e me perguntava se eles teriam conseguido adaptar o texto de maneira interessante.

Tratava-se de uma peça baseada num livro do Kiefer, "Quem faz Gemer a Terra", e tendo assistido à montagem posso garantir que traduziram de forma bem interessante o protagonista, um decsendente de imigrantes alemães que acaba se juntando aos sem-terra e, numa ocasião infortuita, tira a vida a um policial. O sol forte refletindo na lâmina (Camûs?), a espera por Caronte (Virgílio?), um mundo de referências que me deixou fascinado, como quando se está diante de uma beleza que não podemos terminar de compreender. Honestamente, em mais de um momento me contive para não chorar...


Lembrei que havia outra peça, uma adaptação de textos do Caio Fernando Abreu, sendo apresentada no mesmo horário, em uma sala próxima àquela em que eu me encontrava. Havia lido os três contos que estavam sendo adaptados, lêra-os apesar do desgosto que me provocaram, pois perenciam à lista de obras favoritas de alguém que eu amei (muito). Por fim, imaginei que ela estivesse lá, assim como eu, cada um diante do seu teatro e de seus atores.

Não me esqueci de onde estava, nem do mundo ao meu redor. Apenas me perguntei se valia a pena abandonar a realidade que eu estava vivenciando, em perfeita sintonia com os meus sentidos e expectativas, para arriscar outra em nome de um amor. Será que eu seria mais feliz se me envolvesse com um sentimento maior, ainda que este se sobrepusêsse (ou opusêsse) a todo o restante dos meus prazeres? Acho que não...

Estou pensando em escrevrer sobre a natureza dos meus amores, mas isto foi apenas um prefácio. O assunto é sempre complicado. Como eu amo, como eu gostaria de amar e ser amado... Não são perguntas que me perturbam, mas elas não tem respostas prontas. Quandi eu souber o que escrever, vocês vão ter algo divertido para ler.