Quantas perguntas?

...são necessárias para se chegar a uma resposta?

27.6.06

Um furo

Não, não se trata de um furo de reportagem. Trata-se de outro mais banal, daqueles estranhos e quase sem sentido que merecem a atenção dispersa dos leitores cibernéticos: um furo na panela.

Resumo da história: descobri que existe um tipo de fungo capaz de devorar alumínio.

Versão longa: fazem exatamente 16 dias, fiz um molho vermelho com cogumelos. Deixei a panela na geladeira e me esqueci por completo durante cerca de dez dias. Quando vi que o molho ainda estava lá, pensei em jogar fora, mas que fazer? Era muito líquido para botar no lixo orgânico, muito sólido pra jogar pelo ralo. Optei por deixá-lo quieto mais uns dias, e me desfazer dele quando aparecesse um pote vazio de azeitonas ou de geléia. Hoje, me deparei com o envólucro de um sorvete Molico, devorado pelo meu colega de apartamento, e resolvi preencher o vasilhame com o tal molho. Era chegada a hora de lavar a panela.

Capítulo 2: Durante alguns segundos, imaginei que o molho pudesse estar até comestível, pois tinha exalado um cheiro bom e mantinha as mesmas características de quando o guardei na geladeira. Por pudor, preferi não provar. Esquentei água na chaleira e coloquei detergente de limão na esponja, para em seguida despejar o que restava daquela experiência culinária no pote de Molico. Abri a torneira para passar um pouco d'água e reparei que o fundo da panela estava quase limpo, talvez devido aos conservantes do extrato de tomate q eu tinha usado. A única coisa estranha eram umas manchas na parte superior, acima da área que estava anteriormente recoberta pelo misterioso conteúdo.

Capítulo 3: Peguei a esponja e esfreguei com vontade. As manchas, entretanto, resistiram bravamente. Percebi logo que meu esforço era em vão, e tratei de repetir a tarefa com a água calentada. Inútil.

Era algum tipo de bolor estranho, que variava entre o magenta e o cinza. As manchas (seis ou sete apenas) se espalhavam ao redor da panela e desafiam com teimosia a minha mania de limpeza. Resolvi concentrar esforços. Depois de alguns minutos a primeira cedeu. Motivado, dei cabo de outras três antes de perceber que tinha ido longe demais...

Capitulo 4: havia algo indescritível, uma sensação de que o problema era maior do que as aparências indicavam. Soltei a esponja e resolvi esfregar um pouco com a unha, garantir que estava tudo limpo. Foi então que vi meu dedo. Através da panela, por um furo mais que considerável, era possível vislumbrar o tom bege da minha própria pele.

Levantei o recipiente para olhar à contra-luz. O estrago era imenso e quase idêntico abaixo de todas as manchas. O que quer que fosse aquele fungo, era capaz de se alimentar do alumínio, ou ao menos corroê-lo, e assim deixar-me sem panela. Perplexo, contive uma crise de riso e joguei aquele pedaço de ferro velho fora. Fui no Zaffari e comprei uma panela nova, ao preço módico de 14,90 reais. Não fosse isso, estaria rindo até agora.

26.6.06

Onipresente

A Academia Brasileira de Letras tem os seus Imortais. Nós, da redação do jornal o Sul, temos o nosso Onipresente.

Incumbido por missão divina (a pauta lhe foi entregue diretamente pelas mãos de Deus), o grandioso repórter Flávio Pereira abdicou de sua mera condição mortal para percorrer três convenções ao mesmo tempo. Das 9h às 17h de domingo, esse jornalista-mártir esteve em meio aos "convencionais" do PDT, PSDB+PFL e PPS. Simultâneamente.

Os descrentes ão de perguntar: "Mas como?". Respondo fazendo uso da mesma estilística que destaca nosso ilustre periodista:

Durante a tarde de ontem, o repórter Álvaro Lima argumentou que "existe mais entre o Céu e a Terra do que sonha a vã filosofia do Manual de Redação da Folha". Ele contou para o Sul que "nada se compara à experiência de fazer três páginas do Flávio em um dia".

Sim, a imparcialidade de F.P. fascina a todos nós. Mais do que isso, sua capacidade em escrever textos marcantes, nos quais está sempre registrada a sua marca...

Histórias pra contar

Ok, quem tá lendo tudo até agora sabe q eu divago mais do que me atenho aos fatos. Mas como não sou burro nem nada, de vez por outra arrumo uma história interessante pra contar ou comentar... Hoje tem duas, que vou colocar em posts separados para estimular a leitura.

Sabe, na época dos folhetins ficou provado que a escrita em pequenas dozes é bem mais atraente do que as bíblias da vida (aqueles livros de 700 páginas q só mantêm o leitor às custas de um enrredo extremamente envolvente ou de tremenda pressão externa). Como vivemos numa época de informação dinâmica, em que mal temos tempo pra cativar quem quer q seja, deixo q a forma me sirva de gancho, e encaixo o conteúdo conforme tenho tempo...

A questão do tema, por sinal, sempre me despertou um interesse especial. Acho que é um dos mistérios mais complexos da literatura. Se alguém me lembrar do assunto, escrevo mais outro dia...

25.6.06

À minha segunda leitora...

Paula Pereira, xará da filha do repórter policial Paulão, se ofereceu para ser a minha segunda leitora. Grato, muito grato, aproveito para lhe prestar, com este post, uma homenagem simples e sem pompas. Gracias, amiga. Te devo uma. E se ainda por cima tu aproveitar pra comentar o post, de devo duas...

Até agora, a possibilidade de um novo visitante era meio remota: não andei propagandeando o blog e percebi que meu "um" leitor (Sr. B.) havia restringido seu(s) comentário(s) ao meu 1º post. Bom, agora terei, talvez, uma nova leitura das peripécias lingüísticas que que andei desenvolvendo (leia-se: os crimes contra a língua portuguesa que vez por outra cometo).

(Ops: Fred leu tb, apesar de que não há provas disso. Um contador, talvez, resolva esse mistério)

Vou com sono e sem muito mais o que dizer, faço uma curta homenagem a Simon and Garfunkel:

"To my next reader, whenever you may find her..."

24.6.06

Post do dia

Quem checar as datas e os horários vai ver que esse é o terceiro post seguido. Esclareço: os anteriores foram frutos de idéias que quase abandonei, e que se salvaram por mercê dos meus dedos, digitarando quase a contragosto do resto do corpo. As idéias estavam firmes no meu inconsciente, definhando aos poucos para desfalecer em um último ímpeto léxico. Se corretamente formuladas ou não, pouco importa. Agora que estão registradas – inúteis e extensos epitáfios – as idéias podem repousar indefinidamente. Como diriam os gregos, "o sono é irmão da morte", e eu estou morrendo de sono...

Mas antes... (frase de efeito do Máscara)

Assisti essa noite à "Flauta Mágica", de Mozart. Fantástico. E sim, para aqueles que não entenderam ou não querem entender, eu gosto de ópera. Não tanto quanto de música clássica, mas acho que é uma questão de encontrar bons cantores e bons enrredos assim como bons músicos e compositores.

Resumo da História: Tamino é salvo pelas três damas da Rainha da Noite. Ele é um príncipe belo, forte, etc. A rainha lhe promete sua filha Pamina, se a salvar das mãos do raptor Sarastro. Mas ele não é mal, e basta tirá-la do captor Monostatos para que descubram isso. Eles se apaixonam perdidamente, mas para ganhar o amor de Pamina, Tamino tem de se submeter às provas do templo da Sabedoria, Natureza e Razão com seu companheiro e ajudante Papageno. No fim, eles vencem os desafios e se tornam merecedores do amor de suas parceiras (Pa-pa-pa-pa-pagena). A qualidade do resumo é inversamene proporcional ao sono. Deixe estar...

Prefácio

Ok, pra não perder o cunho literário: nunca vi blog com prefácio ou introdução, mas aí vai um só para constar.

Peço aos leitores a justa parte que me cabe da crítica. Fiquem com os xingamentos enquanto me reprimem a desestrutura e a verborragia. Se não acharem nada de útil no conteúdo aqui publicado, dou-me por vencido e sufoco as pretensões. Se sobreviver alguma coisa, faço do meu próprio fruto alimento e tento assim fortalecer-me. "O filho é pai do próprio pai", teria dito Lacan, se não me falha a (péssima) memória. De qualquer forma, essa menção trata da geração espontânea do discurso. É na existência do filho que o pai recebe essa denominação ("pai"), ou seja, é na criação que nos tornamos aquilo que somos. O que isso faz de mim? Sejamos honestos até o fim: "É em vão que o autor solicita a indulgência do público: a existência da publicação está aí para desmentir esta pretendida modéstia" - citação da citação, extraída do prefácio de De l'amour, do Sthandal.

O escritor que re-cito, apesar de não ser autor das palavras acima, concebeu essas: "Não escrevo para 100 leitores. Se tiver dez, cinco que seja, me dou por satisfeito". A última frase é uma crítica velada à apologia de quem publica: na modéstia de quem espera encontrar 5 leitores, existe o orgulho de se saber compreendido por poucos. Façam-me essa honra: excluam-me das comunas e esqueçam o que tentei dizer, se não lhes tocar a alma. Pois, se nem sempre é a alma quem fala, ainda assim é ela a única a saber ouvir.

Acho que precisa de edição, mas deixo meu rebento prematuro aos seus cuidados e confio nas encubadoras.

leitores...

Bom, óbvio que se for pra levar a sério esse negócio de blog, vou ter de sair à caça dos leitores. De maneira prática, vou traçar um plano de metas:

1 - Amigos; não todos de uma vez, que não daria certo, mas aos poucos, quero ver quem se interessa de verdade por ler esse negócio e comentar de vez em quando... Acho que fazendo um pente fino, vão me sobrar uns 15, se tanto
2 - Amigos de amigos/conhecidos; sim, acho que sedo ou tarde, se algum camarada gostar mesmo do meu blog vai falar pros amigos. Uma questão de tempo, não? Talvez um ano ou dois, talvez uma vida inteira...
3 - Curiosos; se encaixariam na categoria anterior, mas falham no quesito freqüência. Presumo que se alguém aprovar o blog e fizer propaganda boca a boca, esses curiosos e voyeurs eventuais vão aparecer também.

Pra não cansar a primeira leva, acho que vou deixar esse post por aqui mesmo. Abraços!!!

20.6.06

Insane

Sonho, alucinação, delírio psicótico... Não sei, mas fiquem tranqüilos que a última alternativa é meio improvável. Ontem à noite, enquanto tentava dormir, comecei a ouvir vozes. Nada muito sério, ninguém me mandou fazer nada e o saldo de mortos da noite ficou em zero. É possível até que eu já tivesse apagado e que tenha sido tudo fruto do meu inconsciente, mas chequemos as demais possibilidades, está bem?

1 - Algo meio Joana D'arc: Deus falou comigo e agora tenho uma missão...
2 - Assassino com dupla personalidade: não fui eu, foi esse homem que está dentro da minha cabeça!!!
3 - Esquizofrenia com personalidades múltiplas: Silêncio vocês aí dentro! Fiquem quietos que eu não consigo pensar!!!

Para não deixar sombra de dúvida, a voz que ouvi foi a mais simbólica possível, aquela que todos os malucos de carteirinha escutam e tentam calar constantemente: a da minha mãe. Obviamente, os outros malucos escutam as suas respectivas mães, não a minha - se escutassem a Sra. Strube de Lima, ficariam receosos de fazer algo errado, virariam pro lado na cama e pegariam no sono. Foi o que fiz...

Bom, tenho que comer antes de ir trabalhar. Silêncio vocês aí dentro, já pedi silêncio!!!!!

Non-sense

Queria escrever sobre o meu dia, mas sinto que seria uma denúncia. As coisas boas que senti e as tristes tem de ficar comigo, mais uma vez. Que tal falar, então, de amenidades? Não posso, passei o dia entretido com coisas pouco reais e nada tangíveis. Idéias de sobra dão nisso: não sobra nada.

No entanto, aproveito esse espaço de escrivência para esticar meu dedo indicadore: Entre os meus parcos e bem-quistos amigos (seletas criaturas que tiveram a chance de descobrir esse blog na primavera de sua existência), apenas um atreveu-se à quem sabe árdua tarefa de comentar-me. Por favor, sigam o seu exemplo! Façam este sacrifício, assim quem sabe me entusiasmo e levo adiante por mais tempo "esse pequeno jogo entre eu e mim mesmo"? Decifrem-me, se puderem, desvelem o véu de silêncio que repousei sobre a minha vida e, por favor, afastem-me dos campos elísios da auto-análise! Lá só perdura a vida estática (extática?), e a corpo que não se move com a alma se dirige sempre rumo ao próprio fim.

Ok, esqueçam a última parte e lembrem-se do pedido: comentem-me e decifrem-me (não exatamente nessa mesma ordem)

17.6.06

Post 2

Quantas perguntas são necessárias para se chegar a uma resposta? Ok: via de regra, todo mundo deve concordar que basta uma pergunta ser bem formulada para ela nos levar à resposta certa. Não vou dar exemplos que não vai ter graça, mas proponho o assunto a uma breve reflexão. Se o contexto for bem compreendido e os interlocutores falarem a mesma língua, é de se esperar que eles cheguem a uma resposta comum para a mesma pergunta.

O problema aqui é outro: e quando a pergunta extrapola o contexto, quando ela tenta forçar os limites da linguagem e da compreensão? Este é meu segundo blog. O primeiro morreu sem um leitor sequer pq não me imaginava escrevendo algo público - receava o fato de que minha visão das coisas escapasse pelas arestas. Tinha dois motivos para isso. O primeiro é que quando escrevo, escrevo para mim. Ainda não consegui dedicar mais do que algumas linhas aos amigos e a pretensas pretensões literárias. Mas em se tratando de expressar dúvidas e questões existencialistas, sempre achei força nos meus dedos para (ar)riscar mais uma lauda. O segundo é que eu mesmo achava esse tom chato demais pra comunicar aos meus amigos que tinha aberto um blog. Preferi poupá-los. Hoje ofereço a eles e a mim mesmo uma proposta alternativa.

Bom, para não perder o gancho inicial do post: na minha opinião, o melhor jeito - e talvez o único jeito - de se entender a vida é fazendo todas as perguntas possíveis, avaliando todos os ângulos e possibilidades, principalmente quando tememos o que eles escondem ou nos maravilhamos com o seu conteúdo. Sempre tive a certeza de qua a vida não tinha segredos nem mistérios, e que na verdade o que ela nos oferece é uma grande pergunta que simplesmente foge à nossa compreensão (a soma de todas as perguntas, quem sabe?). Numa visão judaista isso poderia ser explicado como o nome de Deus, ainda que não eu me lembre de ninguém sugerir que esse nome fosse na interrogativa.

Nesse sentido, me divido em tentar entender a vida até o limite do possível e em mandar esse limite pra puta-que-o-pariu. Mas vou fazer aqui apenas a segunda parte, mais divertida, e deixar minhas dúvidas de lado enquanto escrevo. Demais por hora, agradeço à coragem dos que leram tudo. PS: me desejem sorte.

Pra começar

Por que abrir um blog? O que eu tenho a ganhar com isso? Será que eu não vou perder meu tempo? Alguém vai ler? E o que diabos eu vou escrever? Agradeço ao sr. Bercht o incentivo necessário para simplesmente ignorar essas perguntas e dar cabo ao pontapé inicial. Quanto ao resto, vou levar pelo menos mais uns três posts para fazer algum sentido...