Quantas perguntas?

...são necessárias para se chegar a uma resposta?

13.8.06

Escusas

Isso não deveria ser um post. Não deveria. Existem coisas que devem ser caladas, por mais verdadeiras que sejam, e essa é uma delas. Não estou falando daquelas pequenas mentiras necessárias ao dia-a-dia. Me refiro às grandes honestidades, às escolhas difíceis e às suas conseqüências. Me refiro ao esforço de sublimar os impulsos e desejos que nos jogam de um lado para o outro na vida, e fazê-lo na construção de um futuro melhor, ainda que incerto. Mesmo que não sejamos donos do tempo e nem tenhamos a capacidade de decifrar os mistérios do amanhã, é através da sinceridade dos nossos objetivos que ele pode ser construído. Dito isto, resta saber o que fazer dos remorsos...

Escrevo como confissão. Sempre. Na maioria dos casos, o significado das minhas palavras é uma incógnita até para mim. Desta vez, entretanto, entrego aos meus poucos leitores o peso que carrego nos ombros, e só não o faço de forma mais aberta por respeito ao futuro que quero construir, e as feridas que foram abertas no caminho.

A verdade que tenho para oferecer é essa: a coisa certa nem sempre é a que faz com que nos sintamos melhor, pelo menos não a curto prazo. Ela costuma estar escondida no caminho difícil, como a rosa colhida com as mãos apesar dos espinhos. É uma metáfora simples, mas permite explicar o subjacente sacrifício que devemos fazer em prol da felicidade. Afinal, valores como amor, amizade, honestidade e respeito podem estar em desuso, mas são os únicos que eu conheça pelos quais valha a pena viver.

Minha fraqueza se encontra em suportar o sofrimento, tanto meu quanto alheio, que surge por entre essas escolhas difíceis. Detesto o efeito colateral, o fechamento de inúmeros caminhos - cada um com seus próprios mistérios - para a abertura de estradas novas e devidamente pavimentadas, em que o bem do homem há de ser passageiro seguro. Comemoro o resultado, mas incondicionalmente sinto a dor das trilhas perdidas e das cicatrizes que elas deixam.

Essa dor e o medo dessa mesma dor são as únicas forças que me impedem de agir como os grandes homens, arriscando-me nas escolhas necessárias ao futuro que aspiro. Pena. Isso me atrasa, e mesmo agora não consigo me conformar em ter feito a coisa certa. Quando será que serei capaz de me erguer acima disto e fazer a coisa certa em tempo integral? Quando será que esta confissão se tornará desnecessária, pois estará eminente em cada gesto meu? O que talvez me salve e que ainda agora me move é a consciência de que minha própria infelicidade poderia magoar as pessoas de quem gosto, no estranho ato de ferir para não se deixar sublimar (para o homem que não espera mais nada do futuro, afinal, nenhum mal parece grande demais...).

Parte de mim esta presa aos prazeres perdidos nas vidas que abandonei - o fim de um relacionamento, a mudança de endereço, a permanência em um trabalho, a ausência de alguns amigos. Ainda que fossem vidas que não me fariam plenamente feliz, espero que todos entendam que elas me fazem falta (assim como fazem falta aos que sofrem comigo por suas próprias razões). Agora que sabem, escusem qualquer silêncio eventual - por certo estarei velando um caminho ao qual já não posso voltar. Olho para trás e sigo em frente, lutando para me libertar desse luto.