Quantas perguntas?

...são necessárias para se chegar a uma resposta?

24.10.06

Peças

Sentei pra botar pra fora, como sempre. Escrevi algumas linhas e me dei conta que o como sempre me irritava. Não deixa de ser verdade - não deixa de ser como eu me sinto -, mas isso não importa. O que eu considero mais relevante do que a posição é a perspectiva, e por isso reescrevi esse início para quem quiser me acompanhar.

Conheço meus demônios, e lhes dou voz sempre que eles vêm bater-me à porta. De nada adianta, pois seus gritos e uivos se repetem sempre iguais, misteriosas chagas que por hora tenho de carregar dentro de mim, sem esperança de término. Entretanto, ainda vislumbro pelas brechas dessas minhas idéias-fixas uma pequena sinfonia... sonhos e desejos para um futuro cuja clareza é pouca, inversamente proporcional à ilusão.

Deixo meus medos de lados e fico apenas com a dúvida: o que há de ser? Sei algumas coisas que quero, sei outras que não quero, mas são os meio termos que me confundem. Sei que tenho uma cabeça feita, com opiniões formadas sobre mais assuntos do que realmente me importam. Entretanto, isso equivale a colecionar as peças de um quebra cabeça cuja forma desconheço (e algumas peças que não se encaixam em lugar nenhum). Por hora, tenho montada apenas a borda. Será que conseguirei por o resto no lugar?

Para quem ficou curioso sobre a parte que eu escrevi primeiro (e pensei seriamente em suprimir), deixo abaixo a íntegra:

Estou numa daquelas noites - ou simplesmente num daqueles momentos - em que o coração parece tão pesado que nenhuma idéia concisa consegue poder se formar. É quase como se ele estivesse ancorado ao passado e, numa tentativa alucinada de fuga, revirasse suas próprias profundezas arrastando tudo sem se importar - mas se importando.

É como se toda a força que eu fizesse servisse apenas para me levar de volta a essa desconfortável revelação: de que ainda sou o mesmo, de que posso estar mais perto da pessoa que gostaria de ser, mas o mundo me vê com os mesmos olhos e me trata de maneira igual. Não sou fã de iglus; prefiro deixar o peito aberto a me esconder em castelos de gelo. Mas meus muros se construiram sozinhos, sem escolha. Hoje eles são mais altos que a maioria. E quem se importa em escalar paredes assim, quando há tantas cercas para pular, em amplos sentidos?