Admirável
Terminei de ler nessa semana o "Admirável Mundo Novo", do Aldous Huxley (100% via internet, uma novidade pra mim, que provavelmente não vou repetir devido ao cansaço nos olhos). Havia uma idéia do Helmholtz (amigo do Bernard e do Selvagem) que me intrigou, acredito que tenha sido mencionada durante a "leitura comentada" de Romeu e Julieta, ou então numa das conversas prévias que ele teve com Bernard; ele acreditava que não havia no mundo uma só atividade na qual ele pudesse realmente dar o máximo de si, desenvolver seus talentos até o máximo (essa parte foi conversando com o B.). Em seguida, ele se deparou com a arte de Shakespeare, e então admitiu que era necessária a intervenção de uma nova visão no seu universo para poder escrever algo realmente inovador- porém negou que isto pudesse ser encontrado junto ao amor, ou a sentimentos de fraternidade e apego à família.
Acabei de buscar o trecho na internet. Taí: "No." he concluded, with a sigh, "it won't do. We need some other kind of madness and violence. But what? What? Where can one find it?" He was silent; then, shaking his head, "I don't know," he said at last, "I don't know."
Talvez seja fruto da minha imaginação quimérica, mas isso não faz ninguém pensar em "Clockwok Orange"???
A semelhança fica ainda melhor depois. No capítulo 17, Mustafa Mond , o World Controller, dialoga com os três protagonistas mencionados acima e analisa sua sociedade e aquilo que ele próprio chama de "Grande Arte" - a arte capaz de sobressair-se à bela e frágil camada estética que a encerra para abranger significados (agregando-lhe o conteúdo de um mundo real - real e profundo -, sem perder a beleza). Agora a parte interessante: tal arte exige heróis, exige tragédias, exige nobreza de ato ou de intenções, exige perfídia! E onde encontrar tais coisas em um mundo de estabilidade social e sentimental? Em tal mundo, essas situações são desconhecidas ou incompreendidas. Elas não podem, sequer, ser temidas ou indesejadas...
O mundo de Laranja Mecânica (e eu gostaria de lembrar a todos: EU NÃO GOSTO, nem do filme nem do mundo...) está num limite sutíl em relação ao outro mundo, novo e admirável, que Huxley trouxe à luz. Ambos são condizente nos pressupostos e antagônicos na execução (é fácil perceber que o mundo da Laranja está dominado pela violência e pela instabilidade), e, exatamente por isso, salta aos olhos o gosto de Alex por Beethoven. É a aproximação da "High Art" com a capacidade humana de sentir e realizar-se, ainda que nos nossos instintos mais primitivos...