Vejamos...
O ex-ministro das Relações Exteriores do México Jorge Castañeda esteve em Porto Alegre na terça-feira para falar sobre o cenário político e econômico da América Latina. Uma verdadeira defesa da democracia. Sem dúvidas, a sua perspectiva era embasada na visão do seu país, que, por ver o Brasil e o restante da América do Sul com certo distanciamento (mais ideológico do que físico), podia apresentar esquemas de grande simplicidade e com validade plausível, ainda que não comprovável.
A primeira parte de sua apresentação foi uma aula de história, superficial, sobre a conquista da liberdade dos países da América Latina e da liberdade política tardia, marcada por experiências democráticas falhas e pontuada por ditaduras dispersas no meio do caminho. Os governos atuais, seguindo essa trajtórias, são carregados de defeitos institucionais (em grande parte por copiar modelos norte-americanos e europeus que não se aplicam aqui), que se somam a defeitos de aplicação (corrupção, burocracia etc) para resultar num mau funcionamento.
Apesar desses defeitos, Castañeda comemora os últimos anos de democracia pós-ditaduras. Para ele, houve uma fixação do papel das urnas em quase todos os países sul e centro-americanos, bem como no México. Elas se consolidaram como meio de solidificação dos governos (ainda que nem sempre sejam igualitárias, as urnas mantiveram o respaldo legal, com resultados consideravelmente apoiados pelos perdedores) e isso dificulta bastante o retorno de um regime totalitarista. Para ele, não se trata de querer ou não a democracia que temos agora; ela pode melhorar, mas é importante não trocá-la por um regime pior.
Claro, como ele ressaltou a democracia não é a melhor ferramenta para resolver os problemas de um país. "Ela não serve para resolver problemas, mas para que os cidadãos optem entre diferentes soluções", postulou.
Entre os defeitos do regime atual estariam a lentidão do crescimento econômico e a falta de Justiça em um Estado de direito, bem como a manutenção dos níveis de desigualdade social (aspectos que se estenderiam a toda a América Latina). Entretanto, motivados por esses três fatores, quase todos os países do grupo começaram a optar por governos de esquerda a partir do fim da década e 90 e início do novo milênio. Esse reflexo da "inquietante desigualdade social" é conseqüência direta do número de insatisfeitos com os governos anteriores, que para se manterem terão de agradar um número cada vez maior de sujeitos.
Entre as esquerdas que tem assumido o poder, Castañeda fez ainda uma distinção: a velha esquerda, baseada nos moldes da União Soviética (desaparecida), China (vendida) e Cuba (para quem ninguém mais dá ouvidos), desapareceu por completo. Sobram dois ramos novos. A Nova Esquerda (reformada) de um lado, da qual faria parte o grupo de Lula e Tabaré Vazquéz (Uruguai), antigos ativistas de esquerda reformados pela idade e sabedoria (?). E a Esquerda Popuista, de Chávez e Kirchner, que descenderia mais do populismo do que de uma esquerda qualquer (filhos do Getúlio, quiça?).
Nova Esquerda: evoluiram das falhas dos regimes antigos e não cantam suas vitórias (talvez em época de eleição); Esquerdas Populistas: não dão a mínima para os antigos regimes de esquerda (no máximo acham eles "legais") e cantam vitórias que seguido não são suas.
Era isso!