Quantas perguntas?

...são necessárias para se chegar a uma resposta?

16.9.07

Só um oi

Como quem visita um velho amigo, passei aqui para matar a saudade de escrever por escrever, assim, pela realização do puro despropósito que é tão característico da minha alma. O que dizer? O estranho é que eu deveria ter imaginado que me sentiria assim, como que buscando assunto depois de tanto tempo sem trocar idéias com este interlocutor íntimo que de perto me acompanhou por um longo trecho do caminho.

Me sinto melancólico, circular. Como descrever esse sentimento inverossímil, essa quietude que parece me desfazer em um compasso desritmado de lufadas de vento entrecruzadas? É esse breve movimento que me fez deixar o blog antes – não porque ele desapareceia se eu não escrevesse, mas porque eu não queria escrever, pelo menos não assim. E agora, quando volto para cá e tento deixar apenas uma marca da passagem do tempo, ou pelo menos da passagem do tempo por mim, me deparo com a continuidade dessa natureza que me habita.

De volta aqui, ocupando o mesmo espaço que há meses atrás, quando pela última vez me deparei com este blog e sua natureza confessional, tenho vontade de terminar essa postagem de uma vez e partir, deixar o blog abandonado por mais dois ou três meses, ou até que eu tenha algo de novo a dizer. O problema - e este parece ser meu grande problema -é que não me falta uma mensagem, mas ela me desgosta. E o que faço? Tento calá-la, tento silenciar a demanda, e assim perco a chance de encontrar outra mensagem, de dar-lhe significado para então substituí-la.

Mais do que óbvio, esse último parágrafo nada tem a dizer àqueles que me desconhecem, e, como todas as idéias que me cortam o pensamento, parece fluir em uma direção de ideossincrasias desnecessárias, pretensiosas. Prolongo então o meu intervalo, em busca de algo para dizer que seja pertinente, de uma voz que fale com a minha, de um sentido que seja coletivo, para então compartilhar.

O engraçado, e a razão por que ainda volto, vez por outra, a pairar em meio a devaneios feito este, é que eles são fruto de uma linguagem que não é só minha, é também de outros muitos, e que tu, que seguiu essa leitura até aqui, foi capaz de me entender e, talvez, compartilhar. Me sinto, por fim, como o palhaço sem graça, que ao longo dos seus anos de profissão descobriu que só pode fazer rir ao errar a piada. Desentenda-me, por favor.

Com carinho, Álvaro Lima.

31.5.07

Fechado para reformas

Grêmio 2 x 0 Santos - Tá feliz, Ítalo?

Agora falando sério... Apesar de que não perdi o impulso pela escrita, percebi que me falta constância temática e um pouco de coerência pra manter essa blog funcionando. Contos, crônicas, relatos breves e uma pitada de jornalismo não se misturaram como deveriam, ou pelo menos não como eu gostaria. Só o que falta é me chamarem de eclético. Me declaro culpado das últimas acusações: transformei essa joça em uma espécie de diário, e isso não me serve.

Vou dar uma parada para pensar em reformulações - talvez uma parada definitiva. A verdade é que eu queria um confessionário, um local em que eu pudesse ser escutado e compreendido. Queria leitores amigos e atentos, curiosos por decifrar minhas entrelinhas. Mas eu não poderia esperar mais do que oferecia, e andava oferecendo pouco.

Resumindo: Hasta la vista y me escriban si lo quieran. Se aparecer uma boa idéia, quem sabe eu volto?

6.5.07

Não sei porque estou escrevendo isso

Anoite passada foi de insônia. Não só não preguei os olhos, li a noite inteira (pelo menos duas horas de coisas chatas) achando que assim ia pestanejar e nada! Depois de assistir um filme, consegui dormir exatas 2h47min (extimativa com mínima margem de erro) e fui trabalhar. Agora, perco um tempinho para botar umas idéias pra fora.

Antes de continuar, um aviso aos meus leitores periódicos (sei que tenho alguns freqüêntes, mas deles não posso pedir mais do que já me dão): leiam o meu post anterior e critiquem. Fazia tempo que não escrevia ficção e e mesmo as mais árduas palavras podem ser produtivas par me dar vontade de fazer mais (e, se não gostarem, de fazer melhor). acho que vou fazer um break nas novas postagens até que tenha recebido comentários naquele contículo.

Eu li com uma semana de atraso dois textos de Psicologia Social que foram tema de um debate em sala de aula. Acompanhei mudo, mas curioso. Agora, não só não concordo com o que foi dito, como penso que a única visão crítica que ouvi naquele dia foi da minha colega Rita, que ao oferecer uma leitura diferenciada do material foi posta de volta nos eixos pelas cabeças sempre basculantes da turma.

O texto primeiro, sobre identidade, me pareceu até bem instrutivo. Apesar de alguns lapsos de linguagem (meus, talvez) para estruturar o que se entendia por identidade e seus constituintes, a exposição era bem feita e atingia direto os pontos a que se propunha - que, ao meu ver, eram o "vício" por uma identidade(s) padronizada(s) com que possamos nos estruturar e o medo de sermos destituídos dessa(s) mesma(s) identidade(s). A grande falha para mim, chave para a crítica que quero fazer ao segundo texto em outra ocasião, é que esta análise estava fechada por um cabresto, desprovida de fundamentação histórica (ainda que em nossa própria cultura seja fácil validá-la) e de propósito ou formas práticas de aplicação.

Vejamos os postulados do artigo: 1) Optamos por padrões de identidade para nos adaptarmos à vida em sociedade; 2) A sociedade pós-moderna exige que convivamos em muitos grupos, e isso nos leva à adoção, por vezes, de diversos padrões que intercalamos em uma e outra situação; 3) Existe uma tendência a se apropriar do padrão com tal intensidade que deixamos de desenvolver um perfil próprio e nos contentamos com a cópia; e 4) Quando nos deparamos com situações sociais para as quais o padrão não oferece resposta, somos áflingidos por um medo amplo e irracional, que nos envolve em crises (de pánico, de ansiedade?) nas quais parecem desmoronar até mesmo as nossas funções autônomas (respiração e batimentos cardíacos). [Acréscimo meu: 5) Em casos extremos, não é nem mais necessária uma situação social real para ocasionar tais crises, basta a conscientização ou a fantasia dessa impotência do sujeito.]

O problema da fundamentação histórica consiste em presumir que em sociedades menos complexas o desenvolvimento da identidade não fosse igualmente complexo. Claro, temos menor número de padrões e, mais importante, esses padrões por si próprios não precisam conter tantas respostas qt nossos padrões atuais. Ainda assim, entender a complexidade comportamental enquanto um problema de número de elementos seria simplismo. A lógica apresentada no artigo prova exatamente isso: um padrão de comportamento "viciante" independe do número de respostas que ele te dá; depende da relação entre essas respostas e as situações sociais às quais tu é apresentado. Uma sociedade mais simples condiciona menos comportamentos (em número absoluto), mas apresenta um número relativamente proporcional de situações-problemas.

Trata-se de uma suposição, pois não realizei nem tenho conhecimento de nenhum tipo de experimento sobre essa relação. Vale ainda dizer o excesso de estímulos na construção da personalidade, por si só também pode causar problemas. Acredito apenas que eles sejam de outra natureza.

Quanto à aplicabilidade: uma identidade "viciante", nos moldes apresentados, é aquela que condiciona comportamentos demais e acarreta riscos devido à sua baixa maleabilidade. Esses riscos e condicionamentos, porém, só podem ser observados comparativamente, ou seja, necessitamos colocar pelo menos dois padrões lado-a-lado. E que modelo tomar por base? Como escolher de forma justa um padrão de comportamento que seja melhor que os outros? Qualquer decisão realizada nesse sentido será, invariavelmente, antropocentrista e, ainda por cima, irá contra os pilares da psicologia social e da esquizoanálise.

Resta uma única saída, paralela, e que não foi empreendida pela autora, que quase nos tirou do caminho. Uma análise contextual, com os padrões de comportamento sendo revistos à luz das complexidades do mundo no qual tentam se encaixar. Isso é social, isso é esquizoanálise.
(vou dar uma remodelada nesse texto embreve)

4.5.07

psicologia social-dialética (alguém sugere um título)

A empresa havia contratado uma psicóloga há pouco mais de dois meses. Cheia de vida nos seus 29 anos, ela não teve dificuldades em se adaptar. Preparou um cronograma para entrevistar os funcionários - o que por si só levaria alguns meses - e começou a fazer entrevistas individuais, reservando sempre uma parcela do seu horário para aqueles que quisessem visitá-la para se
abrirem por conta própria. Foi num desses momentos, geralmente silenciosos e que lhe permitiam compenetrar-se na redação das correspondentes ao dia, que uma batida de leve em sua porta - quase inaudível - veio mudar a sua vida.

-Entra - respondeu a meia voz, incerta de que houvesse alguém querendo falar com ela. O trinco girou veloz e a porta se abriu apenas alguns centímetros, esitante, estancada rente ao muro de idéias que deveria ser transposto para entrar na sala. Mesmo sem saber o que lhe aguardava, ela sentiu uma certa curiosidade por aquele desconhecido. Calou-se e esperou que ele se decidisse.

José Maria Meneses acompanhou o desvelar da sala conforme empurrava a porta: o carpete cor creme desprovido de marcas, as paredes azuis sem janela e com nuvens brancas pintadas para diminuir a desolação, uma pequena estante abarrotada de livros que ele pensou estarem cheios de respostas para as suas perguntas. Teve medo da mesa – que pertencera ao patrão e fora cedida após a compra de outra maior e mais nova –, mas as feições suaves da moça que se lhe
sentava detrás eram simpáticas e convidativas. Ela sorria de leve, feliz de que a procurassem.

- Olá! - cumprimentou a psicóloga tão logo viu seu rosto.

- Boa tarde, senhora. Eu tava querendo lhe fazer uma pergunta...

- Claro. Quer sentar? - com um gesto largo, ela apontou a pequena cadeira estofada que havia do outro lado da escrivaninha.

João deu exatos quatro passos e prostrou-se atrás da cadeira. Apoiou no encosto uma de suas mãos calejadas enquanto coçava o peito em um gesto de óbvio desconforto. Balbuciou apenas:

- Dona...

O silêncio que se seguiu foi breve, mas para evitar constrangimentos desnecessários a psicóloga resolveu falar:

- Dona não. Pode me chamar de Raquel.

Ele a encarou nos olhos enquanto ela falava, mas voltou a fitar o chão antes de dar continuidade ao diálogo. Como chamá-la era o menor de seus problemas.

- Dona Raquel... Eu queria saber como é que eu faço pra desligar isso daqui...

Com o braço direito erguido na altura da cabeça e o dedo em riste, ele golpeou três vezes a própria têmpora. Depois passou a mão pelos cabelos negros e retornou-a à posição inicial, sobre o peito, como a impedir-lhe que o coração saltasse fora.

Foi apenas ao ver esse gesto que a psicóloga reparou nas suas feições. A testa marcada e a barba crescida escondiam a idade daquele homem que não deveria ser muito mais velho que ela. Dera-lhe inicialmente uns 45, mas percebeu que não eram os anos que o haviam envelhecido.

As palavras que o empregado proferira, entretanto, não lhe chegaram bem. Tinha dificuldade em compreendê-las e aceitá-las. Afinal, sua profissão servia exatamente para o contrário - ensinar os homens a se apropriarem de sua própria identidade, transformá-los em sujeitos capazes de levar sua própria vida e não serem manusiados como objetos.

- Se fosse assim tão fácil - respondeu -, a gente ficaria em falta de pessoas inteligentes. E além disso, tu tem certeza de que assim tu ficaria feliz? Não preferes botar para fora o que está te incomodando?

- Dona Raquel... eu ouvi falar numa tal de lotobomia...

- Isso não se faz mais e, de qualquer forma, não tem volta. Tu não ia só parar de pensar, tu ia perder a vontade de fazer qualquer coisa, ia perder todas as chances de ser feliz. É quase como uma morte em vida.

- Morte eu não quero não...

- Senta então. Vamos conversar um pouco.

Ele puxou a cadeira e se sentou com as mãos sobre os joelhos, pernas fechadas, de forma que a lembrou um pouco uma criança. Ela se levantou sobre seu olhar atento e fechou a porta da sala, voltando para trás da mesa e puxando a cadeira para o lado. Não se aproximou, mas assumiu uma posição em que não havia mais nada a separá-los. Pediu então que ele começasse a falar.
As palavras vieram primeiro sófregas, depois desabaram com o peso das tristesas que retinham - como uma barragem que se deixa vir abaixo ante a pressão da água. Entretanto, não chorou, mantendo a vista mareada sempre fita nos próprios pés. Contou do tamanho diminuto do barraco, dos dois filhos pequenos e do terceiro que morreu antes do parto, da esposa que ajudava como podia e do segundo emprego, à noite, com que tentava sustentar a mãe e os quatro irmãos. Disse que não aguentava, mas que não poderia abandonar nenhum deles. Com a corrida constante, tinha deixado até de freqüentar a igreja e não conseguia mais confiança nesse Deus filho da puta que o botara no mundo. Desenhou o mapa do seu labirinto e mostrou que não tinha saída - não lhe restava tempo para se divertir, para estudar, para mudar de vida; todas as horas do seu dia eram incondicionalmente distribuidas entre obrigações que lhe permitiam se entregar aos que ele amava. E essa amor, que deveria ter bastado, corroia a si mesmo e já não lhe permitia pensar. Sofria por saber que a vida não lhe reservava novas oportunidades de viver.

Em silêncio, a psicóloga buscava uma resposta. Sabia o que deveria dizer, sabia que poderia receitar-lhe uma saída, falar que ele carregava em seus ombros um peso demasiado grande, que sua mãe e seus irmãos deveriam deixar assumir a responsabilidade por suas próprias vidas, que ele deveria negar aos seus filhos o gosto de uma infância doce a fim de dar-lhes uma maturidade
saudável. Mas calou-se.

Ela percebeu então que sua psicologia não se aplicava. A metáfora tornara-se realidade. O empregado pagava pelos crimes de Atlas e Prometeu. Nascido em um mundo que não lhe ofereceria sustento, João se dispôs a carregá-lo nas costas. Cercado por dúvidas de todos os lados, ele ofereceu o seu amor como única certeza. Junto a tantos outros rostos sem nome, cujo arco do sorriso havia sido retesado pela má sorte, ele tornava a vida possível para aqueles
ao seu redor.

Raquel sentiu as faces calentadas por duas lágrimas que desceram, gêmeas, até se fundirem na altura do queixo. Nunca havia se deparado com alguém tão forte. A única resposta em sua mente era pedir-lhe para que amasse menos, para que fosse mais fraco. Sentia que somente a covardia havia de deixá-lo mais feliz. Mas não era uma escolha que podia fazer por ele.

João ainda aguardava uma resposta quando lembrou da hora e de que deveria ir. Teria que
fazer hora-extra para recuperar o tempo gasto naquela sala. Sabia que ela o havia ouvido, e escutava naquele silêncio um eco do seu desespero. Servil como sempre, agradeceu-a e foi até a porta. Não levantou a vista um momento sequer, pois imaginou que ela pudesse ter chorado e não quis constrangê-la.

Ela conseguiu falar apenas no último instante:

- Eu posso te ajudar a ser uma pessoa mais feliz. Só que não posso fazer de ti uma pessoa melhor. E acho que não foi pra isso que tu me procurou.

De costas, ele respondeu um rápido "obrigado".

-Por quê? Tu não tem por que me agradecer. - respondeu Raquel.

Sem se virar, João esboçou um leve sorriso. Mesmo sem saber, ela havia desatado um dos nós da sua sina:

- Agradeço à senhora por acreditar que eu ainda tenho essa escolha...

3.5.07

sonhos estranhos

Durante essa semana tive três sonhos estranhos - dois deles terminavam comigo beijando uma garota (meninas diferentes, claro). O engraçado é que os sonhos envolviam peripécias sentimentais, mas que no fim das contas não compensavam. No primeiro, eu me preocupava com a menina número 1, cuja casa estava sendo assaltada, e ia tentar ajudá-la. Mas a casa estava vazia e eu temia pelo pior. Depois ela aparecia e me dizia que estava tudo ok (beijo 1). Já no sonho nº2, eu estava virado num poço de carência. A menina passava o tempo todo fazendo uma cara de quero-mas-não-posso, me abraçava com receio e, por fim, se entregava sem remorsos (beijo 2). Quem se sentia mal era eu, por razões que prefiro deixar obscuras.

Os dois sonhos tinham um ponto em comum que eu ainda estou tentando explicar: ambas as meninas beijavam mal.

24.4.07

Malcolm e as mulheres

"Women are just likes forests. Full of mysteries and wolves."

Tá, eu sei que já deveria ter superado a minha fase Malcolm, but's not easy. Bom humor, bons diálogos e algo mais sobre a vida, ainda que nem sempre dê pra pescar.

Tenho que ir pra aula!

21.4.07

To ficando fixado nesse troço

Life as Malcolm sees it:

Stevie - "Why don't you ask her out?"
Malcolm - "It would never work"
Stevie - "Why?"
Malcolm - "Because it would make me happy, and I'm destined to be the most miserable person in this world."

brotherhood

Malcolm - "Dewey, we need you to cry, but it must be the right kind of criyng. Not sopping, more of a weining sound with a penetrating quality"

Dewey (around 8 years old, making a serious face) - "Just give me a moment"

20.4.07

Jorge Castañeda - Elogio à Democracia

Vejamos...

O ex-ministro das Relações Exteriores do México Jorge Castañeda esteve em Porto Alegre na terça-feira para falar sobre o cenário político e econômico da América Latina. Uma verdadeira defesa da democracia. Sem dúvidas, a sua perspectiva era embasada na visão do seu país, que, por ver o Brasil e o restante da América do Sul com certo distanciamento (mais ideológico do que físico), podia apresentar esquemas de grande simplicidade e com validade plausível, ainda que não comprovável.

A primeira parte de sua apresentação foi uma aula de história, superficial, sobre a conquista da liberdade dos países da América Latina e da liberdade política tardia, marcada por experiências democráticas falhas e pontuada por ditaduras dispersas no meio do caminho. Os governos atuais, seguindo essa trajtórias, são carregados de defeitos institucionais (em grande parte por copiar modelos norte-americanos e europeus que não se aplicam aqui), que se somam a defeitos de aplicação (corrupção, burocracia etc) para resultar num mau funcionamento.

Apesar desses defeitos, Castañeda comemora os últimos anos de democracia pós-ditaduras. Para ele, houve uma fixação do papel das urnas em quase todos os países sul e centro-americanos, bem como no México. Elas se consolidaram como meio de solidificação dos governos (ainda que nem sempre sejam igualitárias, as urnas mantiveram o respaldo legal, com resultados consideravelmente apoiados pelos perdedores) e isso dificulta bastante o retorno de um regime totalitarista. Para ele, não se trata de querer ou não a democracia que temos agora; ela pode melhorar, mas é importante não trocá-la por um regime pior.

Claro, como ele ressaltou a democracia não é a melhor ferramenta para resolver os problemas de um país. "Ela não serve para resolver problemas, mas para que os cidadãos optem entre diferentes soluções", postulou.

Entre os defeitos do regime atual estariam a lentidão do crescimento econômico e a falta de Justiça em um Estado de direito, bem como a manutenção dos níveis de desigualdade social (aspectos que se estenderiam a toda a América Latina). Entretanto, motivados por esses três fatores, quase todos os países do grupo começaram a optar por governos de esquerda a partir do fim da década e 90 e início do novo milênio. Esse reflexo da "inquietante desigualdade social" é conseqüência direta do número de insatisfeitos com os governos anteriores, que para se manterem terão de agradar um número cada vez maior de sujeitos.

Entre as esquerdas que tem assumido o poder, Castañeda fez ainda uma distinção: a velha esquerda, baseada nos moldes da União Soviética (desaparecida), China (vendida) e Cuba (para quem ninguém mais dá ouvidos), desapareceu por completo. Sobram dois ramos novos. A Nova Esquerda (reformada) de um lado, da qual faria parte o grupo de Lula e Tabaré Vazquéz (Uruguai), antigos ativistas de esquerda reformados pela idade e sabedoria (?). E a Esquerda Popuista, de Chávez e Kirchner, que descenderia mais do populismo do que de uma esquerda qualquer (filhos do Getúlio, quiça?).

Nova Esquerda: evoluiram das falhas dos regimes antigos e não cantam suas vitórias (talvez em época de eleição); Esquerdas Populistas: não dão a mínima para os antigos regimes de esquerda (no máximo acham eles "legais") e cantam vitórias que seguido não são suas.

Era isso!

jornada

Nem sei por quê, estava a caminho de casa quando pensei na palavra "quest", que em inglês quer dizer busca, jornada. Sempre tive problemas em lidar coma tradução dela, pois os sinônimos são um pouco distorcidos. No original, quest tem um significado mais grandioso, de uma busca por algo importante, como na "busca pelo Santo Gral", ou "jornada para a glória". Minha tradução não está perfeita, mas esso não é o ponto; o que me surpreendeu foi a facilidade que tive para aceitar o termo em um conceito mais amplo, adaptando tanto os termos "jornada" e "busca" para satisfazer a minha vontade de significado.

Bem, se tu teve paciência de ler até aqui (e sei que não disse nada no último parágrafo), então vou oferecer alguma informação concisa. Passei a semana fazendo uma auto-lavagem-cerebral, programação neurolinguística ou seja lá qual for o nome disso. Depois que o sr. Bercht reclamou do meu blog ("se ficar pior afunda"), decidi esperar e não postar nada até ter algo de positivo. Deixei a tempestade passar enquanto ouvia Gary Jules e Elliott Smith, Suzanne Vega, Emiliana Torrini e Aimee Mann. E um pouco de Seu Jorge. Eles não são exatamente os cantores mais pilhados da praça, mas servem pra encher a minha bola - me mostram que o mundo pode ser belo pelo que é, que eu não sou o único a achar as coisas tristes como elas são e que é possível fazer algo a respeito (nem que seja cantar como um louco).

Verdade seja dita, estou com saudade de amar. Será que já escrevi isso antes? Meu coração treme com facilidade por coisas bobas e se inclina pelos mais estranhos sinais (que não tem muito de correspondentes). Por sorte fechei todas as entradas antes de iniciar a última rodada de reformas, e ninguém mais se aventurou em meio a essa estruturas podres.

A jornada, bem... Ela já começou, não? Não há nada para fazer a respeito. Eu sei que tenho de abandonar algo (provavelmente metafórico: um valor, um mal hábito, um sentimento ruim?) para poder seguir com a minha vida, mas não consigo deixar nada para trás. Não que eu não pudesse viver desse jeito - é só que eu não seria feliz. Por hora, continuo guardando conhecimento feito um louco e vivendo cada dia meio de sopetão, como se me saltasse diante dos olhos por milagre. Quando olho pra dentro de mim em busca de uma resposta, vej apenas uma mensagem breve: "One way ticket to hell. Quick stop on Earth. Have a nice trip."

17.4.07

noite

Não quero escrever. Fiquei pensando no que deveria fazer desse próximo post e me encontrei sem idéias. Estou com sono, e o único consolo que tenho no computador é não pensar. Não sei até que ponto isso é vantajoso, mas sei que o distanciamento proporcionado por este estado (uma espécie de Ataraxia) pode ser a minha chance de mudar de rumo. As horas passam e e a noite se aproxima do fim - mas meu estado de espírito se conseva imutável (mais chato e sem senso de humor do que nunca).

13.4.07

A loteria da Babilônia

Texto de Borges que, se bem me lembro, li faz uns dois anos. Acho até que já fiz um post a respeito, mais no começo do blog. É uma metáfora para a vida, uma utopia e ao mesmo tempo um pesadelo. Mas, não raro, quando fico chocado com as grosserias da realidade ou com a minha própria passividade, penso na relação entre o universo e esse gigantesco sorteio diário, em que os jogadores ganham e perdem incessantemente.

E a única regra que consigo perceber é que aqueles que não jogam não vão a lugar nenhum...

11.4.07

And what if it's th'last?

Shall we waste all our chances of happiness?

What if we get to the end of this road and find ourselves alone, surounded only by shrouded shadows and innocuous shapes, emptied of meanings? What if we realize that we have never been understood, and that maybe we were just not able to express our feelings properly, or to find someone able to get us... That while those that we took as friends showed us love and respect, they never touched us deep enough, they never transpassed the boundries of their own indivuality, even less ours.

What if the need of company, laughts and bright lights served only to daze? If the marvels and pleasures and sins of this superficial role-play life would lose their illusory grasp, and we were finnaly faced with the quest that has troubled our nature for ages past? What if we had still a chance of finding something worth it? And we could just accept that there must be no doubt in this search?

Even thought it's not picture perfect, the flickering presentation of hope, misty and half cover by fears, is what we've got to keep going. Shall we give up? Shall we waste our chances of hapiness?

9.4.07

Um pouco de veneno em minhas veias

Não fui na aula, perdi uma cabine de cinema, não terminei de escrever um trabalho ao qual me propûs, fiquei atrasado nas minhas leituras e assisti horrores de televisão sem ganhar nada. Tem veneno nas minhas veias...

Sei que não há nada de errado em ter momentos de distração, e que são raras (talvez inexistentes) as pessoas determinados em tempo integral. Mas fiquei surpreso com esse momento de fraqueza - ou melhor, despropósito.

A nova faculdade está sendo proveitosa, mas não constante. Sinto que nem todos os professores me oferecem o mesmo, e que nem todas as leituras lá dentro valem a pena. Mas gosto do que eles estão tentando me ensinar.

Tive um grande momento na sexta-feira passada, em que revivi o prazer de estudar e aprender. O que tem me incomodado desde então é que eu deveria poder despertaqr isso por conta e tenho tremenda dificuldade. Um conhecido, que eu não via a algum tempo, brincou sobre a minha entrada na Psicologia: "Outra faculdade? Tu não acha que já era hora de crescer? "

Fiquei irritado e respondi: "Se crescer é parar de estudar, não muito obrigado". A conversa não terminou aí, mas a verdade é que ele tinha razão em um ponto: eu não preciso de faculdade para estudar. Eu preciso somente de um assunto, tempo e determinação.

Me sinto mal em relação a tudo isso porque sei que não consigo escolher esse assunto por conta e me dedicar a ele. Talvez me falte conhecimento (pouco provável), talvez me faltem (ou sobrem) critérios, porém a verdade é que não tenho uma foça motriz capaz de me levar a dar esse passo...

Vou pensar no assunto, mas agora tenho que ir pra Pampa.

Frase do dia:
"Don't worry son. Those are just lies I've told to the doctor to get prescription drugs..."

7.4.07

carinho

Chego em casa e te beijo na boca, num movimento rápido e sem paixão. Um beijo condicionado pelo hábito e transformado em rotina com o passar dos anos. Perguntas como foi o meu dia e eu te conto coisas bobas, detalhes e minúcias de uma vida sem importância. Devolvo o favor e acolho tua narrativa sem surpresas. Combinamos um cinema, marcamos um encontro com aquele teu casal de amigos e tentamos encontrar uma hora para fazer algo diferente, mas nenhum de nós parece ter uma boa idéia. Afinal, novidades são raras depois de todo esse tempo juntos.

Tomamos banho e nos trocamos em turnos, como que cegos para a nudez um do outro. Sento no vaso de porta aberta, e quando me ouves solta uma risada e pedes para que eu abra a janela depois. Na cama, lemos os dois em silêncio e não percebemos o roçar de coxas que outrora teria lançado ambos em um indescritível desejo mútuo.

Apago a luz de cabeceira e me viro para o teu lado, apenas para te desejar boa noite, mas me perco na contemplação das tuas rugas. A testa fransida, os óculos tortos na ponta do nariz e a boca inexpressiva me assustam. Penso no tempo que se passou e no quatno mudamos desde que nos conhecemos, e tudo isso me assusta. Me assusta porque me dou conta do quanto ainda te amo.

Passo a mão pela tua nuca num carinho que sequer percebes, e tenho de esperar para que termines uma frase antes de me voltar a face. Espero sorrindo. E então tomo tua boca com uma paixão que dormitava, choro lágrimas de alegria senil e sinto o gosto salgado se misturar aos nossos lábios num desses momentos de felicidade capazes de justificar toda uma existência - e, quem sabe, duas....

?

Quanto tempo da nossa vida deve ser usado para pensar? Existe um limite para a análise que se pode (ou deve) fazer sobre uma determinada vivência? Existe um limite para a informação que podemos receber e, conseqüentemente, analisar? A partir de que ponto devemos tomar cuidado para não nos perdermos em divagações e a partir de que ponto a falta de reflexão passa a se tornar perigosa? É possível perceber a diferença quando já não somos capazes de compreender e quando siplesmente nos cansamos de perguntar? É possível ser feliz sem se perguntar essas coisas, ou será a própria ignorância quem nos garante um sorriso besta?

3.4.07

Anatomia!

Prova amanhã de manhã! Se quiserem ler algo interessante, vejam o post anterior!

30.3.07

Readers check list!

Se eu fosse escrever exclusivamente para mim, manteria um diário, e não um blog. Portanto, agradeceria ao meu leitor anônimo se deixasse um comentário...

Para estimulá-lo, deixo uma pergunta: qual o seu livro favorito?

Não desapareça, por favor! Não é necessário informar nome, idade, sexo. ou o que seja. Ficaria agradecido com essa pequena informação, e deixo aqui o nome do meu (para quem não sabe):

O Vermelho e o Negro, de Stendhal.

Fico esperando!

What is and what should never be

Acho que já usei esse título antes para um post, mas vá lá. A frase do Led é incrivelmente boa, e sempre que eu fico com impressões conflitantes a respeito do mundo, penso nela. Apesar do que pode parecer, não se trata de uma dicotomia. Se trata de complementos. Duas faces de uma moeda em eterno giro, um cara-ou-coroa cujos lados se confundem no movimento dos dedos ágeis de um apostador divino.

Eu ia escrever ontem sobre a alegria que foi receber ligações e mensagens de amigos ao longo do dia - gente que eu queria encontrar, mas de quem eu andava (ando) afastado em razão das minhas duas vidas. Fiquei muito feliz em saber que as pessoas de quem eu gosto também sentem saudades, e queria escrever para mostrar isso. Fica listado: Claudia, Bruna, Ítalo, Fred, Letícia! Obrigado pela atenção! Fez o meu dia valer a pena.

Mas outras coisas tb fizeram. Me diverti numa festa com os colegas da Psico (as colegas, verdade, mas tinha dois ou três homens). Conversei sobre assuntos interessantes e acordei relaxado depois de 6h de sono. E machuquei o pé, feio, mas valeu a pena.

O título e a parte contraditória vieram das coisas que eu não fiz e devia ter feito; das coisas que eu fiz e não devia; e das coisas que eu não sei se devia, não fiz, mas continuo tremendamente a fim de fazer. Talvez eu seja julgado por isso um dia (eu mesmo vou me julgar, sem sombra de dúvida), mas cheguei à conclusão de que me sentir bem pode ser mais importante do que estar feliz - no sentido compreensivo de felicidade.

Sou um sonhador, e nem sempre levo a vida tão a sério qt devia. Mas diante de sentimentos fortes e dos meus valores (eu ainda tenho alguns!), não sei ser leviano. Há forças capazes de mexer com meu ânimo, escolhas que tenho de fazer cautelosamente. Há sonhos que são maiores do que qualquer dor ou alegria diária - e lidar com eles, sejam conquistas ou decepções, é ressignificar a própria vida.