Quantas perguntas?

...são necessárias para se chegar a uma resposta?

31.7.06

três coisas interessantes

Liguei meu computador! Uma surpresa ver ele funcionando assim tão rápido... Anyway, assim posso voltar a teclar alguma coisa e compartilhar bobeiras! Prometi três e lá vai:

Nº1 - Crescimento surpreendente: meu blog está com o dobro de acessos em relação à minha última postagem (pra quem não viu ainda, tem um contador). É um verdadeiro mistério! Presumo que todos sejam da Paula e da Lu, pois só elas postaram alguma coisa desde então... Bem q o resto do pessoal podia comentar tb, né? Tem ainda uma possibilidade remota e estranha: eu tinha programado o tal contador para ignorar acessos feitos com o meu IP anterior. Quem sabe, ao utilizar uma conexão diferente, eu tenha acabado de descobrir que visitei meu blog mais vezes q todos os meus amigos somados...

Nº2 - A essa altura já esqueci as outras duas coisas. Enquanto teclo assisto a um filme - péssimo, por sinal - chamado Sahara ou algo parecido, e como todos sabem sou uma pessoa fácil de se distrair. Lembrei! Queria comentar que a pessoa demitida não era gorda. Pois é, Paula, alguns colegas meus lamentaram grandemente a partida dela...

Nº3 - Retomei uma leitura que já dura meses (3, para ser mais exato. Mas vale destacar que tem 450 páginas e está escrito em francês do início do sec XIX). Na verdade eu já tinha até lido o livro inteiro (+-250 páginas). Agora acabei as notas e os apêndices (+-75 páginas). Tem ainda 50 páginas de comentários no final, q eu tb li, e no meio de tudo isso tem a parte que estou lendo. Encontrei três prefácios e alguns acrescimos que o autor resolveu fazer depois da primeira edição. Para quem se pergunta por que os prefácios (e vale a pena notar que a palavra está no plural), tem uma explicação bem curta e interessante. É que o autor foi trocando conforme reeditava a obra. Mas como eu não gosto de histórias curtas (a RBS que se cuide) vou contar a versão longa.
A primeira edição esgotou rapidamente. Acontece que a crítica foi tão ruim com o livro que as pessoas o compravam simplesmente pelo prazer de o colocar na fogueira. Estranho, estranho... Mas vale a pena lembrar que estavamos em 1827. Daí ele escreveu o primeiro prefácio (antes tinha somente uma introdução curtinha). Era uma defesa, ok, mas mais do que isso um pedido àqueles que andavam queimando a obra: "Está bem, vocês não precisam gostar do meu livro! Mas nesse caso, simplesmente deixem de comprar! E por favor, não o queimem mais!"
Não adiantou. Essa edição tb virou cinzas... Na terceira, ele foi mais sutíl: esclareceu que escrevia apenas para dois ou três leitores (os famosos "happy few") e se desculpou por não poder agradar às massas. Ele tocou ainda uma questão com a qual me identifiquei bastante - as pessoas desgostam certos livros porque eles as fazem pensar. As pessoas odeiam certos livros porque eles as fazem sentir. E não existe frustração maior do que nos depararmos com um tipo de felicidade que não possuimos.

Baboseira, baboseira, baboseira... vou-me embora para patópolis!

26.7.06

Fatos, fatos, fatos...

Um post rápido e factual: estou voltando pra casa dos meus pais até segunda ordem, o aluguel ficou caro e não encontrei um apartamento que agradasse - a todos, é preciso deixar claro...

Não foi dessa vez: as demissões no sul foram bem mais restritas do que o esperado (uma só pessoa). O que há de ser do futuro, entretanto, não sabemos.

Se alguém ler esse post antes de ler o anterior, já aviso que pode dispensar. Aquele é um post que eu não vou ficar entristecido se ninguém ler, pois eu mesmmo não sei porque escrevi...

Boa noite e até breve!

soneto insensato

Engraçado, tentei me concentrar pra escrever sobre alguma coisa interessante e não consegui... O "interessante" é relativo, verdade, mas o "concentrar" é absoluto. Vivo absorto em pensamentos circulares e, mesmo quando me dedico dar-lhes algum sentido, não desligo. Não consigo. Fico funcionando assim, dividido, imerso num mundo de fragmentos pessoais que molda e reconstrói a minha realidade numa velocidade constante.

Nos bons dias, ela - a realidade - chega cheia de bolinhas coloridas, com gosto de sorvete de morango ou com o som de sonetos insensatos, poesias que se revelam nuas em meio às possibilidades da palavra. Nos maus dias... Bem, nos maus dias ela mal chega... Respondo aos impulsos como um autônomo, deixo o mundo correr ao meu redor como um rio, e me torno uma rocha nesse leito gelado. Sinto que as correntes me envolvem e tentam me carregar, mas resisto com a força comum aos seres imersos em si mesmo: a impassividade. Sei que vou lentamente tomando um formato idêntico ao de tantas outras rochas, perco a origem vulcânica e o destaque dos contornos disformes. Mas paro sempre antes de me tornar areia.

Eis a única forma de concentração que realmente me domina: a imersão. Preso dentro de mim, ganho força para novamente enfrentar as águas. Quando deixo fluir a vida ao meu redor, e essa vida ganha força com o calor das primaveras, esqueço os labirintos e me atiro novamente de cima da cascata. Mergulho ainda mais fundo em devaneios indecifráveis. De lá, nada posso tirar de útil (o ritmo dos meus abismos seria impróprio para compartilhar com os outros), mas volto fortalecido para buscar uma resposta.

O deprimente é que tudo isso também é circular. Se eu não estivesse com tanto sono, talvez a escrita saísse com mais facilidade e dêsse pra seguir mais um pouco. O problema é que o cansaço está tomando conta e a confusão já voltou nessa minha cabecinha de alfinete (friso: a de alfinete é a de cima!!!). Mas vale uma conclusão: cada vez que me levato dessas profundezas - e todo Homem tem as suas profundezas e os seus mergulhos - experimento novamente o caos de pensar, o caos do pensar. Detesto esse estado de incertezas, no qual a única certeza que tenho (e talvez o único alívio) é de que ele é comum a todos os que ainda se perguntam quem somos e o que diabos estamos fazendo aqui...

25.7.06

I don't think I'm ever gonna figure it out...

Só pra constar, um dos meus cantores favoritos se suicidou faz quase dois anos e eu só fiquei sabendo na semana passada. Elliott Smith. Essa é uma breve homenagem a ele e a todos aqueles que, hipnotisados pela confusão que a vida lhes causa, reescrevem o mundo - com música, com sentimentos ou com palavras bobas e inocentes. Respirem fundo, que lá vamos nós para mais um mergulho...

24.7.06

tabula rasa

Não vou me dar ao trabalho de explicar o significado da expressão do título, pois acredito que a maioria já a conheça (os demais, procurem em outro lugar; a internet está cheia de referências). Gostaria apenas de analisar essa idéia sob uma perspectiva levemente alterada – e não, não estou bêbado... estava ontem, no último post, que começou como uma coisa e terminou sem eu nem saber direito o que ou porque estava escrevendo. Hoje estou bem...

Como ia dizendo, gostaria de repensar a idéia de tabula rasa: SE nosso potencial criativo está preso a experiências recentes, ENTÃO o verdadeiro processo criativo é um processo de seleção. Deu pra entender?

Sei, sei: no momento, não parece assim uma limitação tão séria (se parecesse, você com certeza NÃO estaria lendo esse blog). Pior: nem parecesse que estou extraindo qualquer conhecimento novo da expressão "tabula rasa", apenas explicando um decorrência direta e óbvia. Mas me acompanhem por mais algumas linhas e chegaremos a algum lugar.

Para aqueles que quiserem mudar de vida, criar coisas diferentes, é preciso ir beber em novas fontes. Nossas existências são uma espécie de cabresto, e apenas aqueles com a capacidade de voltar a mente e os sentidos para longe desse contexto comum – ao qual chamamos realidade – tem qualquer chance de alterar o que quer que seja.

Talvez esteja sendo fatalista. Sem sombra de dúvida estou sendo superficial. Mas fiquei intrigado com um fato antigo, que voltou a me incomodar após a criação deste blog: quem lê toda essa merda? Tá certo que às vezes, e somente às vezes, faz algum sentido. Enquanto isso, passamos a maior parte do tempo correndo os olhos por linhas que se transformam em trilhos – linhas das quais ficariamos felizes de descarrilhar para poder novamente observar a paisagem.

Aos meus amigos: fico grato por lerem essas palavras, e ainda mais grato quando resolvem postar um comentário. Contudo, trocaria tudo isso por boas conversas, opiniões pontuais e aquele sentimento de profundidade rara e significativa que me toca quando ouço uma idéia original. Se gostaram daquilo que leram, vamos parar por dois dedos e tomar 5 minutos de café, ok?

epifanias

Assisti dois filmes na noite de hoje, em companhia dos ilustres BB e PC. Dois filmes recheados de epifanias: Waking Life e Thumbsucker. É verdade que o título do segundo não diz muta coisa, mas a história é interessante e me deixou deveras intrigado (as angustias e aflições do personagem me lembraram até certo ponto as minhas). O motivo deste post - na verdade são dois - é de não desperdiçar por completo esses ensinamentos. Eles são realmente válidos? Não sei. Vão fazer alguma diferença na minha vida? Duvido. Mas espero que eles se mantenham acesos na minha memória e me motivem a seguir em frente...

Então: a vida poderia ser apenas um sonho e isso não faria a menor diferença. O importante é viver, ainda que o universo seja falso ou ilusório, só assim a gente pode chegar a algum lugar. E, caso não seja possível chegar onde quer que seja, foda-se. Isso mesmo: foda-se. Pelo menos a gente tentou.

Tem aquela frase, que eu seguidamente atribuo ao Neruda, apesar de saber que não é dele: "Caminante, no hay camino. El camino se hace al andar". Perdoem quaisquer erros - meu russo não é lá essas coisas... A moral, no entanto, acho que captei: tem a ver com a necessidade de trilharmos a vida conforme nossas próprias necessidade e anseios, de dar liberdade aos nossos desejos e, principalmente, vida ao nosso potencial. Essa era uma idéia comum aos dois filmes, ainda que abordada sob perspectivas bem diversas. Na produção de Richard Linklater, a vida era composta apenas de fragmentos, dos resquícios de uma realidade limitada aos sonhos. No filme do dedão, tratava-se da superação de limites em uma existência humana, frágil e indefinida. Em ambos os casos, a pergunta era como a vida deve ser levada, e a resposta era... não há resposta!

Que desculpa esfarrapada, né? No entanto, é uma das coisas mais honestas que se pode dizer. E essa confiança na incerteza (?) faz sentido apenas quando atingimos um estado mínimo de auto-confiança, capaz de contrapor o medo e a indiferença que geralmente dirigem nossas vidas. E aí, vai encarar? Eu, pelo menos, acho que vale a pena correr o risco...

23.7.06

resp

Pra responder o comentáro da Lu: sim, o Raul fazia isso... Ei, aproveitem e postem comentários!!! Queria começar uma campanha pró comentários, mas deixo isso pr'amanhã...

Confissão

A verdade é que estou de saco cheio com a vidinha que ando levando. Desmotivado e sem objetivos, passo tempo demais pensando o que fazer pra sair desse labirinto de ratos. Pra piorar, vejo minhas próprias frustrações com o olhar de um homem frio e alheio. É simplesmente impossível pra mim aceitar que estou infeliz com o que faço, pois não consigo identificar o que me falta. Nunca consegui. É como se a peça quebrada fosse eu: o mundo está ao meu alcance e fecho os olhos para tentar entendê-lo.

O melhor exemplo talvez venha de uma história recente: eu ia cobrir o Festival de Bonecos de Canela pelo jornal O Sul, estadia garantida, mala pronta e partida marcada para o final do expediente. Passaria quatro ou cinco dias na Serra, assistindo todas as peças e enviando as matérias por email. Trabalho árduo, claro, mas não por isso difícil, e muito menos indesejável. Estava entusiasmado como poucas vezes nos últimos tempos, e provavelmente como nunca em se tratando de uma atividade proporcionada pelo Sul. Na última hora, nosso editor-chefe cancelou a viagem. Ele havia descoberto que o evento tinha patrocínio da ZH. Por breves instantes, senti um vazio indescritível. Pensei nas seguintes palavras: "O cálice me foi partido nas mão justo quando lhe ia sorver o vinho". E assim fiquei cerca de meia hora, sem que outra idéia atravessasse minha mente. Entretanto, esse vazio foi, aos poucos, sendo substituido por outro, mas amplo e menos profundo. Quando cheguei em casa, minhas desilusões já estavam sedimentadas. Como as cinzas de um vulcão, elas formaram uma camada dura que recobria e asfixiava toda a esperança que me havia brotado com esse projeto. Mais do que isso, outras esperanças minhas, incautas e inocentes, também foram feridas.

Percebi então que o tal "cálice" já estava há muito vazio. Para saciar-me, era preciso sorver os sonhos com que eu o havia preenchido, era preciso viver os sonhos com que eu pudesse preencher-me. E a cada dia, no entanto, minha capacidade de sonhar se torna menor...

Não fosse a estafa proporcionada pela minha rotina, talvez eu não tivesse a capacidade de produzir essas linhas, de botar pra fora esses demônios modernos e, acredito, comuns às gerações de hoje. Afinal, quantas vezes aqueles que pensam sonhar estão de fato atrelados aos reflexos de uma sociedade baseada no consumo? Mesmo a chamada "contracultura" representa, hoje, valores baseados numa oposição fictícia, impulsos gerados por um merchandising subconsciente e com seus próprios "mais valia".

Ok, vou deixar a crítica social de lado, pois no momento não me serve pra nada. Atenhamo-nos à crítica psicológica: na busca por si mesmo, o homem tem de enfrentar sentimentos que, apesar de meramente absorvidos pela convivência social/familiar, estão tão profundamente introjetados que muitas vezes parecem definir o seu próprio caráter. Como o neurótico que pensa: "E no dia em que eu estiver 'curado', será que ainda serei eu mesmo?" Essa é uma pergunta que eu não sei responder diretamente, mas me intriga ao avaliar a questão do potencial humano.

Se pudessemos ser tudo o que sempre quisemos, e para tanto tivessemos simplesmente de nos entregar totalmente na direção dos nossos sonhos, quantos conseguiriam realmente realizar-se? Quantos não seriam vencidos por medos e inseguranças absurdas que ainda imperam sobre a tão ovacionada "razão humana"? Quantos não ficariam atrelados aos estereótipos da felicidade que nos é vendida em farmácias sob o signo da pílula azul (e eu estou falando do Viagra...). Pra completar, quantos não se perderiam em desejos conflitantes e incompatíveis, conseqüências diretas da educação cristã? Somos mais de 6 bilhões nesse planeta, e ainda assim acredito que apenas uma centena, quem sabe um milhar fosse capaz de tamanho despreendimento.

O resto... Bem, o resto, como eu, que se foda. Ou que encontre uma solução! Chega de circo, chega de correr em círculos. É chegada a hora do filho do homem, da renovação antifilosófica referida por Nietzsche. Ah, se pelo menos eu soubesse como fazê-lo! Se pelo menos fosse possível a alguém ensiná-lo e a mim aprendê-lo! O que me resta, agora, é o sonho da auto-superação, do reencontro das forças em um ideal coerente e poderoso o suficiente para que me seja possível fazer uma diferença. Quem sabe?

22.7.06

cotê cotidiano

Hoje pude passear por diversas cenas do nosso ambíguo cotidiano. Vamos de trás pra frente?

São quase duas da manhã e minha frustração é múltipla. Me comprometi a dar uma mão para um vizinho inglês, ajudar ele a corrigir o português numa monografia que ele tá escrevendo prum pós em comércio exterior. Detalhe: o trabalho já foi rejeitado pelo orientador uma vez, e não é difícil perceber porque. O domínio da língua é péssimo, mas a superficialidade com que o tema é tratado me surpreende ainda mais. É possível (e eu espero) que ele reescreva uma boa parte, pelo menos então não vou me sentir impelido a reescrever o que ele me apresenta. Aos meus colegas da faculdade que porventura lerem isso: estou me sentindo como o Raul, que ficava puto com os trabalhos em grupo e reescrevia tudo sozinho. Criancice minha, né?

Vamos aos outros pontos: 1) no meio da tarefa acima, o Ítalo chegou em casa falando e desconcentrando. Respondi aprazivelmente no início, mas pedi licensa no final pra terminar o que precisava ser feito. Obviamente, ele não deu. Continuou falando até eu mandar ele ficar quieto, e depois ainda continuou até cansar... Pra completar, quando achei que tinha acabado, inventou de reclamar da luz que deixei acesa no meu quarto. Detalhe: não fui eu. O Max (o inglês) foi atrás de uma cadeira e esqueceu de apagar. 2) Antes de começar a revisão, saí correndo do MSN e tive tempo de ver q a Jô tinha recém entrado. Que fazer? Ela vai ficar achando que eu evitei ela, e, exceto por essa menção despretendida, vou ser obrigado a deixar ela pensando que foi isso mesmo. 3) Um taxista fdp me mandou tomar no cú porque NÃO DEIXEI ELE ME CORTAR. 4) Meus planos de comprar um ap parecem mais frustrados do que nunca: meu "empréstimo" foi rejeitado. O próximo passo terá de ser jogado com precisão cirúrgica e auxílio divino. Ninguém tem um trevo de cinco folhas pra me emprestar?

Para não dar a entender que sou pessimista, gostaria de recordar um pequeno momento cômico no início do meu dia: passei por um casal, homem e mulher, igualmente gordos e igualmente grávidos. Estava indo para o trabalho (sim, meu dia inicia depois do meio-dia) e esperava pela sinaleira da JP com a princesa Isabel. Eles passaram lentos e majestuosos com suas curvas de dádiva. Não tivesse o marido barba, teria eu concluído que eram lésbicas e esperavam gêmeos (bivitelinos, claro). O que dizer? Aquela pança de cerveja quase me convenceu, e levei alguns segundos pra perceber que o barrigão não tinha nada de materno. Entrevejo, entretanto, entrelinhas: a história merece uma moral! Romance que é romance não tem peso! Às vezes, quando não se consegue correr atrás da felicidade, é preciso deixar(-se) rolar...

20.7.06

O pai, o filho e a puta que os pariu...

O título é pura subversão: acreditem, isso é uma reflexão psicanalítica. Já escrevi antes que o filho é pai do pai, uma idéia que não é minha, mas que eu acho pra lá de interessante. Quis incluir a mãe nessa relação, só pra tentar entender exatamente qual o papel dela.

A boa mãe – aquela que exerce a função materna de forma saudável – é a que cria o filho para o mundo. Nesse sentido, ela tem de vencer seu próprio impulso de prendê-lo sob a asa, de protegê-lo através da relação de dependência que o prende na primeira infância. Somente assim ela pode criá-lo plenamente, como um ser completo e capacitado para agir longe de sua presença. Somente assim o filho poderá ser homem autônomo e independente, somente assim ele poderá ser pai (do pai ou de qualquer outro). O extremo oposto nessa balança seria igualmente execrável, encontrado nas mães que NÃO criam o filho, que se abstêm de exercer as funções fundamentais para a formação da sua personalidade e da estrutura edípica.

Donde deriva a frase do título: quando a mãe é incapaz de criar o filho para o mundo, ela também incapacita esse filho de recriar o pai, de amadurecê-lo através da experiência da paternidade. Eis aí o que eu chamaria de complexo de Medéia (será que isso já existe?): a mulher mata os dois filhos (o filho propriamente dito e o pai - Jasão -, que seria recriado através do filho, mas não chega sequer a nascer)

Os que leram esse post até aqui devem estar se perguntando: "Porque diabos ele escreveu isso?". Carinhosamente vos respondo: tava a fim.

Estou com sono e intrigado com uma questão que me atormenta: sofro um bloqueio para escrever ficção que já dura dois anos (ele teve início com a minha monografia e pegou carona no início da carreira profissional para seguir viagem), e que há cerca de oito meses passou a afetar a minha capacidade de raciocinar sobre temas acadêmicos. Essa foi uma tentativa de mostrar que o bloqueio é transponível, porém sei que constitui um passo mínimo no caminho dessa mesma superação.

17.7.06

breve narrativa

Liguei pra mais de uma dezena de imobiliárias e corretores desde que começei a minha caçada por um apartamento. Agora o relógio tá apertado, vou me mudar em duas semanas e ainda não comprei nada. Aparaentemente, vou voltar pra baixo da asa da minha mãe-coruja e continuar procurando por alguns meses... Mas deixemos os fatos de lado e prossigamos com uma breve narrativa.

Quem já tentou comprar apartamento sabe que corretor é um bicho chato, muito chato. Você liga pra perguntar um preço ou a localização de um ap, quantos m² tem o tal do cubículo e em que andar fica, enfim, esse montaréu de coisas que os anúncios sempre dão pela metade, seja por questões de preço e espaço. Como ia dizendo, você liga pra imobiliária para fazer duas ou três perguntas e lá vai o tal do corretor de pedir nome, telefone e rg! Não quero e não dô, responde o seu interlocutor com ênfase! Eles ficam meio sem jeito, pensam que a abordagem direta não falha (eu mesmo caí na conversa deles umas quantas vezes antes de me irritar com o contra-interrogatório), e daí se fazem de queridos pra perguntar se tu precisa de financiamento e blá, blá, blá... O pior é quando se dipõem, gentilmente, ao tal "aconselhamento técnico". Quem diabos vai querer conselhos de alguém que quer vender um imóvel, e ainda por cima tirar 6% do valor total da compra??? Tem gente que não se manca, mas até agora só peguei um corretor camarada. É que a venda não era dele, ele tava cubrindo o horário de um amigo. Me mostrou o imóvel, deu o cartão e disse que dava pra baixar o preço. Respondeu especificamente a todas as minhas perguntas e nem me encheu o saco tentando marcar mais meia dúzias de visitas a versões fac-similes do apartamento. Fui pra casa tranquilo e quase comprei aquela birosca...

Só para constar, o Anibal me ligou e passa bem. Ainda não foi dessa vez...

16.7.06

hummm...

Devo aos leitores a segunda história. Minha paciência se esgotou antes da hora e ficou sem ar, a pobrezinha..

Anibal

Famequianos da velha guarda recordam o nome do mestre. Pupilos dedicados do curso de Jornalismo trazem para sempre seus ensinamentos diegéticos e fásmicos incrustrados na alma. Poucos, porém, sabem onde anda. Há cerca de um mês, liguei pro Anibal pra saber como ele andava (não estranhem, uma boa conversa é um raro prazer). Cosamos durante cerca de uma hora sobre temas literários - Machado, Qorpo Santo, Sthandal, não exatamente nessa mesma ordem.

Percebi, com certa dificuldade para admitir, que a memória dele está, de fato, comprometida no que diz respeito a acontecimentos recentes. Ainda que tenha recordado meu nome pelo som da minha voz e que estivesse a par dos últimos passos da minha carreira jornalística, alguns dos comentários que teceu continham retalhos de opiniões previamente já expressas em nossas conversas. Nada, no entanto, que diminuísse o prazer da prosa.

Deixo de lado os específicos (guardo-os somente para mim). Revelo, entretanto, duas doses de factualidade: aos que, como eu, já se surpreenderam com a aura de mistério que envolve o professor, trago um ponto para somar ao enigma.

O Aníbal já foi goleiro. Sim, goleiro. Décadas atrás, obviamente, mas com empenho e gosto pelo esporte. Nenhuma carreira profissional, nada que indique um grande destaque em sua atuação no métier, mas bastante ânimo. Vale algumas risadas? Vale... Mas também vale a avaliação do próprio mestre, para quem o esporte de nada serviu. Olhando pra trás, todas as horas passadas a correr atrás de uma bola – ou melhor, a impedi-la de entrar no gol – não ajudaram a entender nem a tirar melhor proveito da vida. Peço que os interessados opinem: para que vale um futizinho? Não dispenso o meu, mas acho que vale a reflexão.

Fato 2: encontrei o Aníbla no Centro na última terça-feira. Me ofereci para acompanhá-lo no almoço, filar uma conversa. Ele passou mal. Levei ele pra frente da Santa Casa, e desde lá não consigo falar com ele por telefone (cai sempre na secretária...). Se alguém tiver visto o bom velinho, faça o favor de me avisar. Estou preocupado, mas sei que não posso fazer nada. Triste isso.

Para não decepcionar a Paula...

Passei duas semanas sem postar e parece uma eternidade. Felizmente, não fui o único a perceber essa ausência. O Blog é novo, tem poucos leitores e minha vida não-virtual esta consumindo muito do meu tempo – mas eu tinha que voltar a escrever, mas cedo ou mais tarde. E como resistir ao apelo da antiga colega de facul e batalhadora profissional noturna (só pra avisar os desavisados, é piada...), Paulette? Aproveito então para fazer uma das coisas que melhor sei nessa vida: dar desculpas.


Em primeiro lugar, estou envolto em delicados projetos pessoais: férias (quero e preciso), mudança (não aguento mais pagar aluguel) e necessidade urgente de uma nova perspectiva de vida. O barco afundou a uns três meses, e estou vivendo submerso desde então. Tanto profissional quanto afetivamente. Tenho alguma reserva de ar, porém sei que se não me libertar e nadar até a superfície, vou descer cada vez mais fundo no vasto e gelado oceano das minhas tão frustrantemente clichês desilusões!

Caracas! Acho que tinha dito num dos primeiros posts que queria escrever de maneira clara e objetiva. Não tá dando certo, né? Hoje, pelo menos, não tá... As histórias que tenho para contar sempre parecem menos importantes do que a palavra regurgitada das minhas entranhas. As minhas idéias fluem num ritmo extremamente próprio e não consigo calá-las para causar (contar causos...). O mero fato de tornar o meu pensamento público já o deturpa, na medida em que congela idéias constantemente desatualizadas, interrompendo o fluir da corrente para bebê-la na concha das mãos. Como conseqüência, tudo o que ponho aqui fica somente para registro. O que gostaria de dizer resta calado e criptografado no meu íntimo - às vezes transpassa algo pelas entrelinhas, mas quem teria paciência de me decifrar?

Ok, já redundei o bastante. Vamos aos fatos, não? Se a paciência perdurar mais 30min, vou postar duas histórias. Me desejem sorte.

1.7.06

ébrio

Acredite, esse post é fruto de extensa pesquisa e muita reflexão. Tanto que, afirmo, não é meu. Sim, ele é a negação da minha identidade:

Estava vindo pra casa e percebi que para ser feliz era necessário que mudasse algumas coisas. Preciso me tornar outro, preciso me tornar o Outro. Inversão de valores completa, destruição dos fantasmas e dos fasmas, superação das fobias e das manias. Me detesto pela falta de objetividade, então vamos direto ao ponto.

Preciso aprender a aproveitar as coisas que me fazem feliz. Sempre fui dessas crianças que guardava o chocolate até estragar para não desperdiçá-lo. Hoje percebo que assim acabava indo fora desnecessariamente. E eu também me jogava fora. Deixava de gozar os prazeres que a vida me dava e ficava contente em saber que estavam à minha espera, ainda que nunca os alcançasse. Hoje gostaria de mudar isso (se a minha força de vontade for forte o suficiente). Escrevo exatamente para gravar a idéia além da minha mente e da minha carne. Faço dessas linhas um primeiro sacrifício, a exposição pública de uma fraqueza que me diminui diante das coisas que desejo e diante dos potenciais que poderia expandir.

Ainda que as palavras aqui escritas não exponham a minha essência, elas servirão como testemunhas da mudança que ensejo, e assim poderão auxiliar-me na dura tarefa de tornar-me quem tanto quero ser.

Preciso dizer que estou ébrio?