Quantas perguntas?

...são necessárias para se chegar a uma resposta?

31.1.07

O Último Rei da Escócia

Ok, ok... dessa vez fiz diferente: escrevi a (curta) matéria em casa e vou publicar na sexta. Boa leitura e não usem isso como desculpa para não comprar o jornal!!!

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Em uma atuação que lhe rendeu o Globo de Ouro de Melhor Ator na categoria Drama, Forest Whitaker trouxe de volta à vida o carismático e violento ditador Idi Amin – auto-proclamado "O Último Rei da Escócia". Esse personagem real, que na década de 70 chegou ao poder em uma Uganda turbulenta e empobrecida, envolveu o país num dos mais violentos regimes do mundo moderno, responsável pela morte de cerca de 300 mil pessoas.

Contada na visão do fictício médico escocês Nicholas Garrigan (James McAvoy), a história leva o espectador em uma viagem dupla, pelo universo íntimo e pelo regime criado por Amin. Recém formado, o escocês parte para a África a fim de conhecer o mundo e fugir da vida que lhe esperava junto à família. Uma vez lá, deixa-se envolver pela figura do líder em ascenção e, aceitando a função de médico pessoal, acaba por mergulhar fundo no círculo do poder.

Ainda que recheada de emoções fortes, a trama pode desapontar quem procura por uma aventura convencional. Na figura de Garrigan não há herói, não há grandeza e quase não há escolha. A relevância do médico restringe-se a guiar o público através do processo de descoberta de Amin, enquanto ele próprio se entregando à vida que lhe foi reservada e sente na pele o carinho e o desprezo do ditador.

Mas é a perspectiva estrangeira oferecida pelo personagem que o torna interessante. O olhar do médico ajuda a mostrar o caráter ambíguo do líder em ascenção: a fascinação que mantinha sobre o seu povo, a personalidade extremada – que intercalava um tom ameaçador com demonstrações de afeto quase infantis – e a controvérsia gerada por suas ações na política.

Todas essas facetas foram pintadas com cores vivas por Whitaker, que além do Globo de Ouro está entre os favoritos para o Oscar. A forma como absorveu os traços da polêmica personalidade de Amin realiza uma façanha, contextualizando não apenas os conflitos internos de um homem, mas as forças que marcaram e dividiram uma sociedade.

Não bastasse, o filme agrada ainda pelos aspectos técnicos. A trilha sonora constrói um ambiente sólido, revelando os sons primitivos de uma África agrária e a mistura de ritmos que tão bem caracteriza a urbanização inspirada nos moldes dos países desenvolvidos. A fotografia, ainda que nem sempre agradável aos olhos, é constante em tons e enquadramentos, criando uma linguagem tanto marcante quanto dinâmica. Só dá pra reclamar que a pipoca não vem incluída...

28.1.07

A perda da essência

Ouço o farfalhar das folhas e me pergunto de onde vem...

Me pergunto se é realmente possível um ruído tão íntimo em um mundo tão grande, em um universo de proporções assim desmedidas. Se sou o único a escutá-lo, a me deiar envolver por sua natureza, será que ele existe mesmo? Como esperar que alguém acredite em sua beleza indescritível, se não a tiver experimentado por conta própria? Penso então em um poema que quero escrever, mas não posso – ou pelo menos não devo. Quem haveria de lê-lo, decifrá-lo? Quem haveria de entender que esse poema...

Me levanto e vou em direção ao som. A copa das árvores dança elegante por sobre a luz amarelada dos postes, projetando em minha janela um espetáculo de sombras e silhuetas caóticas. Por alguns segundos, deixo de lado todas as perguntas diante da beleza que vem de fora. Deixo de lado todo o resto, inclusive a mim mesmo.

No conforto desse estado dormente, esqueço momentaneamente que deve haver um porquê. Esqueço que busco uma resposta, um sentido, e me deixo inundar por palavras que escorrem dos meus dedos feito lágrimas. Justo eu, que quase nunca choro... Leio e vejo que escrevi o poema: claro, limpo, puro.

Tento lê-lo em voz alta, deixar que deslize por sobre minha língua para sentir a forma dos seus sons. Paro. Começo de novo e paro outra vez. Aqueles sons travam na minha garganta e emudecem, me queimam por dentro e fazem calar. Não são mais meus dedos que choram.

Trato de apagá-lo do papel, da memória, e então lembro da pergunta. Lembro que a vida existe feito um enigma ou um labirinto, e que assim deveria existir esse poema. Deixo de lado as soluções e o discurso direto, reescrevo tudo até confundir a mim mesmo.

Quem seria capaz de comprender a resposta sem conhecer a pergunta? Quem mereceria contemplá-lo sem antes saber de onde vinha? Quem seria capaz de entender que aquele poema era...

Ouço o vento soprar novamente na copa das árvores e volto com o jogo de luz e sombras ao qual estamos acostumados. Escrevo o mistério, renegando o prazer masoquista de compartilhar a solução. Espalho as peças do quebra-cabeça, minto sobre as regras do jogo, escondo as chaves. Ainda assim, torço para que alguém além de mim seja capaz de entender. Mas já não espero nada.

Afinal, quem poderia entender que aquele poema era...

24.1.07

Pot pourri

Passei em psicologia! E fiquei super-hiper feliz com isso, me sentindo feito criança! Ainda assim, quase perdi a matrícula, não fosse o aviso de uma amiga em cima da hora (tava no cinema às 22h30min e recebo uma mensagem sugerindo que minha matrícula podia ser no dia seguinte. Às 3h eu olho na internet e confirmo que às 11h tinha de estar no Campus da Saúde munido de xeróx da identidade, CPF e diploma...)

Bom, fiz a matrículo, só para constatar que minhas cadeiras são pela tarde (exceto uma pela manhã), mesmo horário que o meu emprego. Que fazer? Me inscrevi em todas e busco uma solução (aceito sugestões como comentários desse post!). Atualmente vejo três: 1) malandragem, que não é garantida; 2) pedir para trocar de setor no jornal, o que certamente é furada; 3) buscar um outro emprego, à noite, o que parece a melhor opção (mas acabaria me afastando do trabalho com cultura, que vinha me dando um prazer inesperado).

Sigo escrevendo para comentar um tópico que gostaria de ter postado nos últimos dias, mas deixei de fazê-lo por ter andado fora da área de serviço: descobri que meu nome não aparece nem sequer na primeira página do Google. Se procuro por "Álvaro Lima", encontro só xarás. Por isso me disponho nesse exato momento a tentar enganar o google com uma manobra traiçoeira.

Álvaro Lima, Álvaro Lima, Álvaro Lima!!!

Pronto, mais que isso ia ser sacanagem grossa, e de qualquer jeito não espero ir parar entre os 10 primeiros. Quero apenas resolver um problema: se um velho amigo resolver me procurar no Google para saber onde ando, ou o que faço, agora tem uma chance de me encontrar. Como nenhum outro Álvaro Lima deve ter feito a mesmo coisa (pois imagino que nós não sejamos pessoas assim tão egocêntricas), quem me procurar passa a ter uma chance real de encontrar esse blog.

18.1.07

Conhecendo meus leitores

Descobri (na verdade, me contaram que eu já tinha) uma ferramenta capaz de fornecer informação detalhadas sobre os meus leitores. Calma, o seu anonimato será preservado! Tudo que posso saber é: com que sistema operacional acessou o blog, a que horas entrou e via qual link (google, outros blogs, etc..). É bem inútil, mas agora que sei duas coisas interessantes: 80% dos meus leitores usa internet explorer, 20% firefox; todos usam Window, mas 10% ainda enfrentam o 95.

Fora isso, agora sei tenho uma média de 10 visitantes por dia, e posso presumir que teria ainda mais caso resolvesse atualizar regularmente. Vale destacar que, entre esses, 10% acaba redirecionado via google após alguma busca maluca, como, por exemplo, "processo de subida/descida de um submarino". Se vocês buscarem essas palavras todas no Google, sou o 4º resultado. Mas ahhhh!!!!

Babel

Deus abençoe as cabines de imprensa!

Assisti "Babel" em primeira mão, às 10h30min de quarta-feira, e hoje dediquei a maior parte da minha tarde à construção de uma matéria sobre o filme. Queria ter escrito mais, mas me enrrolei um pouco e acabei deixando de fora uma referência aos filmes de narrativa não-linear (o que foi uma coisa boa, pois o comentário poderia ter entregue mais do que o necessário sobre o longa). Aos interessados, leiam amanhã, em O SUL. (Vou descobrir se posso publicar aqui. Se me deixarem eu posto a matéria).

Bom, outra coisa que queria dizer sobre o filme e não pude: li em algum lugar que todo bom relato de ficção corresponde a uma analogia à realidade (bem ou mal feita, conforme o caso). Li também - e não me perguntem onde - que, por mais completo que fosse ou se propusesse a ser, esse relato seria sempre um recorte, incompleto e parcial, pois a narrativa humana está sujeita à noção de perspectiva, que acomete a todos nós.

Esse filme, assim como outras produções do diretor mexicano Iñárritu, trata de mais de uma história girando ao redor de uma trama central. Em suma, mais de uma perspectiva, mais de um recorte, arranjados de maneira a oferecer uma noção compreensiva do todo. Nesse caso, porém, ele foi além. A fragmentação do foco narrativo, editada de maneira lapidar, sobrepõe diferentes histórias inconclusivas de maneira a pruduzir um recorte amplo. O salto de qualidade é similar àquele que distingüe um mapa mundi de um globo terrestre. Vale a pena assistir.

16.1.07

Pensamento profundo

Fui vencido pelo sono e deixo meu joguinho de escritos por aqui. Mas tem um pensamento mais elaborado, um raciocínio interessante que gostaria de compartilhar. Como todas as idéias boas que tenho, fico com a impressão de que não é minha. Talvez não seja. Como o sono me impede de elaborá-la com a mesma clareza com que a entrevi antes, então não irei fundamentá-la. Os argumentos existem aos montes, basta pensar um pouco.

Você já deve ter ouvido a expressão "democratização da informação", e provavelmente associada à idéia de internet como meio de acesso livre ao conhecimento. Paralelamente, você já ouviu protestos em relação à pirataria de cds e dvds, os desrespeitos à propriedade privada realizados com downloads ilegais e até às somas absurdas que o comércio mundial perde com esses "crimes". Ainda assim, duvido que nunca tenha segurado um cd pirata em suas mãos, e quem sabe até comprado um.

Pois bem. Fazer apologia à pirataria de cds vai contra minha visão política, mesmo contra a minha visão ética. Ainda assim, essa pirataria é a melhor forma de democratização da informação que conheci até hoje. Mesmo que haja um mercado negro vivendo às custas dela, esse mercado não impede o efeito reformista possibilitado pela transferência ilegal de dados, inclusive aquela realizada via mídia física.

O crime, nessas circunstâncias, torna-se um ato semi heróico, o pirata vira corsário a serviço do povo, um Robin Hood virtual, um revolucionário na mais verdadeira e profunda reforma pela qual o mundo está passando. A reforma da informação.

632 páginas de pura emoção

Antes de sair pra buscar a jaca, enquanto meu tio não chegava, jantei um resto de sopa com minha mãe e meu pai na cozinha. Sobre a mesa, uma edição do livro "Redes e Inter-redes", de Douglas E. Comer, traduzido para o português por ninguém menos que o sr. Álvaro Lima. Fazem dois anos que o material foi entregue, e apesar de algumas alterações feitas ao longo dos últimos meses, ele já estava pronto para ser publicado faz um tempinho. Agora, finalmente, sai na versão nacional com com o meu nome na folha de rosto.

É um prazer mesquinho, mas um grande prazer.

Pé na Jaca

Cheguei em casa às 21h. Meu pai, recém regresso do futebol, está falando no telefone com o meu tio Rogério. Ao desligar, me avisa que o meu tio ficou de passar aqui, e que eles iam dar uma volta para roubar jacas. É, roubar jacas...

A história foi a seguinte. Dois funcionários da firma onde meu tio trabalha, responsáveis pelas entregas, apareceram com duas belas jacas. Meu tio percebeu que ainda conservavam as folhas, e perguntou onde eles às haviam comprado.

- Não compramos. A gente pegou na rua. Tinha umas deeeeeesse tamanho. E amanhã vamos passar lá com uma escada para pegar as grandes.

Ele sabia onde a entrega havia sido feita, e não resistiu. Ligou para o meu pai e pediu umas ferramentas de jardinagem, em específico uma tesoura telescópica, usada para cortar galhos mais afastados com precisão. Passou aqui às 22h15min.

Fomos os três juntos atrás do pé de jaca, noite caída, dentro de um fusca em estado terminal. Após chegar na rua e no número indicado, ainda levamos 10 minutos para encontrar a árvore no escuro. Por fim, descobrimos que ela ficava em frente a uma garagem, e que sair escalando incógnitos seria impossível.

Meu tio perguntou se o garagista se incomodava que pegássemos uma jaca.

- Não! Se conseguir alcançar pode levar.

Fora dada a largada. Meu pai e meu tio, em trajes de paisana, rondaram o gigantesco pé de jaca. O apoio mais baixo ficava a quase dois metros de altura, e a jaca que valhia a pena a pelo menos três. Me apressei e tentei a escalada. Meu pai me ofereceu um apoio, meu tiu ajudou com o ombro e, quando me dei conta, estava sentado em um galho a dois metros e meio de altura, diante de uma jaca de quase dez quilos, em meio ao bairro Chácara das Pedras, Porto Alegre-RS.

A operação de retirada ocorreu sem problemas. Algumas pessoas passaram pela rua, o garagista ficou vendo e dando risada. Eu consegui tirar a jaca e descé-la lentamente até as mãos do meu pai. Daí ele me passou o treco para eu tirar uma segunda, um pouco menor e mais alta. Ela caiu três metros e meio em direção ao chão, e sequer ficou rachada. Sucesso duplo.

Me sujei, e descobri duas coisas sobre pés de jaca: em primeiro lugar, a casca da árvore provoca alergia, e por causa disso meus braços estão vermelhos e com uma bolhinhas esquisitas... É mole? Em segundo, a seiva é extremamente grudenta. Vira uma espécie de cola depois que seca, e mesmo tomando banho não consegui tirar toda do meu braço. Péssimo. Em compensação, podem ter certeza. Valeu a pena.

Uma ligação inesperada

Eram 19h e eu estava saindo do trabalho, correndo para conseguir chegar a tempo em um compromisso. Desci às escadas da Pampa em direção ao estacionamento e, chegando ao meu carro, percebi que havia esquecido as chaves na mesa. Respirei fundo e me preparava para ir buscá-las quando o telefone tocou.

Era um número desconhecido, mas até aí nada de mais. Atendi.

- Alô?

- Álvaro? E aí guri! Aqui é a Jô!

- Jô? Tu tá no Brasil?

- Não, tô de ligando da Espanha. Mas não te preocupa que não é a cobrar!

Pois é. DDI para o Álvaro, direto da srta. Marins. Papo vai, papo vem, ela me pediu um favor relacionado aos arquivos da Pampa. Fiquei de buscar parte do trabalho dela lá e enviar em PDF via e-mail, para que ela possa se matricular num curso. Finalmente. Já faz um tempinho que ela tá lá e eu sei que ela andava preocupada por não ter conseguido se matricular em nenhum pôs. Agora essa parte do problema tá resolvida.

No entanto, a Jô ainda enfrenta outros problemas. Ela foi recentemente expulsa do apratamento onde estava morando. Excesso de festa, segundo minhas fontes. No entanto, ela ficou mauca com o locatário, que foi pessoalmente lá mandar os inquilinos embora. O divertido foi que ela tentou conversar, mas diante da impossibilidade de estabelecer um diálogo, acabou atirando mel na cabeça do cara. Não sei se o pote era de plástico ou vidro, mas sei que ela não perdoou. É, a Jô não perdoa...

15.1.07

Cabeça-oca (vai hífen???)

Combinei que almoçaria com meus pais no shopping Moinhos, pois tinha de trocar um livro do Zorro que ganhei de natal. Não que eu não quisesse ler o livro, mais recente título da Isabel Allende publicado em português, mas é que eu já tinha uma cópia em espanhol, trazida pela minha mãe após uma viagem ao exterior, quase dois anos atrás.

Até aí tudo bem, né? Ganhei um livro repetido e preciso trocar... O problema é que a pessoa que me deu o segundo volume, pasmem, foi a mesma que me deu o primeiro. Minha sempre atenta mãe, bastião do perfeccionismo e da minúcia, esqueceu por completo que me havia dado outra edição da obra de presente.

Não fiquei nem um pouco de cara. Rimos horrores, e ela não acreditava que tivesse feito isso. Mas agora chegou a hora de trocá-lo por outro volume. Corri ao shopping, pois estava atrasado, e chegando lá me dei conta de um detalhe fatídico: esqueci o livro.

Quantos posts valem meu dia?

Estou com sono e resolvi postar alguma coisa antes de ir dormir. Uma coisa só, pois não gosto de ficar sentado aqui tempo demais (dá uma puta sensação de perda de tempo...). No entanto, fiquei pensando: quantos posts rendem meu dia? Se eu realmente tentasse escrever ou descrever o maior número de causos ocorridos ao longo do meu dia, quantos mereceriam menção? Dois, três? Talvez quatro?

Sei que a maioria dos meus posts vem semana a semana, e são tremendamente introspectivos, mas isso não quer dizer que eu não tenha o que escrever nos demais dias. É só que eu fico com preguiça...

Portanto, faço um pequeno experimento. Vou fazer alguns posts seguidos. Quem se der ao trabalho de ler todos, e estiver interessado em emitir uma opinião, pode dar nota ou então classificá-los como quiser. E, por sinal, esse aqui já conta como o primeiro.

Dois posts (2)

Ontem à noite fui na formatura da Miriam, hoje pela manhã o meu celular estava com seis chamadas não atendidas da srta. Tatiana Rockenbach, ex-colega de faculdade e amiga nas horas vagas. Levei ela e a Michelle até a festa, mas fui embora antes das duas moças. Ao ver as ligações esta manhã, pensei: "Poxa, será que aconteceu algo com elas?". Mas não. Aconteceu foi que a bolsa da Michelle ficou dentro do meu carro, com chave de casa e tudo, e agora terei de sair para devolvê-la em algum ponto obscuro de Porto Alegre...

Não sei nem porque me dei ao trabalho de escrever isso! Se alguém sacou, me explica.

Dois posts (1)

Roubei essa frase de um outro blog, mas não se preocupem. Não pretendo fazer do plágio minha ferramente de trabalho. Quem quiser checar o (estranho) blog original, que eu visito silenciosa e periodicamente, por favor, acessem Ruminações Digitais.

"A ignorância é uma coisa vil, abjecta, indigna, servil, sujeita a inúmeras e violentíssimas paixões. Destes insuportáveis tiranos que são as paixões - e que ora nos governam alternadamente, ora em conjunto - te libertará a sabedoria, a única liberdade autêntica. Para chegar à sabedoria um só caminho e em linha recta; não há que errar; avança em passo firme e constante. Se queres que tudo te esteja sujeito, sujeita-te tu à razão; dirigirás muitos outros, se a ti dirigir a razão. Ela te dirá o que deves empreender, e de que maneira; assim não serás surpreendido pelos acontecimentos. Tu não podes apontar-me alguém que saiba de que modo começou a querer aquilo que quer. E porquê? Porque o comum das pessoas não é levado pela reflexão, mas arrastada por impulsos. A fortuna cai sobre nós não menos vezes que nós caímos sobre ela. A indignidade não está em «irmos», mas em «sermos levados», em perguntarmos, de súbito, surpreendidos no meio da um turbilhão de acontecimentos: "Mas como é que eu vim parar aqui?"
- Séneca, Cartas a Lucílio

13.1.07

vazio

Eu estava assistindo um episódio de X-Files (roubei a caixa da primeira temporada de uma amiga, ou melhor, de um grande amigo que por sua vez pegou emprestado de uma grande amiga sua) e me deparei com uma pequena epifania. Era o décimo primeiro episódio da série, entitulado Lazarus. Porém a história em si influenciou o resultado final muito menos que o meu estado de espírito.

Em um determinado momento, a Scully é sequestrada por um ladrão de bancos que morreu e teve seu espírito transferido para o corpo de um agente do FBI. Traído pela sua companheira, ele está a beira da morte e Mulder busca desesperadamente resgatar sua parceira. Graças a algumas evidências dispersas, eles localizam a região onde a pobre Scully está sendo mantida.

É aí que eles mostram uma externa da casa. Arquitetura tradicional norte-americana, recoberta por tabuões de madeira pintados de branco, porém descascados. Céu cinza em uma manhã de dezembro, uma árvora sem folhas em frente. A rua mesmo está vazia, à exceção de um carro da década de 50/60, estacionado diante do cativeiro.

Não pude deixar de ser tocado por essa imagem breve, exibida por dois ou três segundos. Ela era de uma feiura e de uma frieza que a tempo eu evitava encarar de frente. Claro, foi muito mais fácil fazê-lo através da televisão, mas isso não altera o resultado. Apesar da composição fotográfica, esteticamente trabalhada, e de todos os elementos remeterem às transformações que o homem exerce sobre o meio, havia algo de inumano ali. Havia algo intocado, latente em todos os objetos e trazido à luz pelo estado em que se encontravam. Aquela imagem, extraída do mundo real (pois, ainda que fictícia, era cotidiana), falava diretamente a mim ao expressar os nossos limites, as restrições do nosso poder sobre as coisas físicas, nossa fragilidade em relação à existência mesmo.

A deterioração gradual do mundo, explícita naquela cena congelada por quase um minuto na tela da minha televisão, me fez refletir sobre a importância minguante do homem ante o mundo que ele tanto se esforça para moldar. Não que o processo de reconstrução do ambiente tenha parado ou desacelerado, mas sua continuidade está ligada no automático, em direção a uma propósito que não creio ser capaz de esboçar.

Tá, essa visão é de fato bem depressiva, mas foi o que eu vi. No esforço para erguer seus castelos, carregados de beleza e força – em uma luta para redesenhar o mundo à sua imagem e semelhança –, o homem também lhes atribui seus defeitos e suas fraquezas, criando remanescências futuras e monolíticas do seu próprio vazio.

Espero que vocês tenham entendido a piada :P

11.1.07

Wellington, o Papai Noel

A família inteira estava reunida para a noite de Natal. Três gerações da classe média-alta porto-alegrense confraternizando em um apartamento próximo à praça da Encol, felizes e satisfeitos no mais pleno sentido da palavra. A ceia havia sido farta e os mais velhos tinham bebido cerveja e vinho, pelo menos o suficiente para ficarem rindo a toa sem armarem confusão. Na mesa, os pratos deram lugar a meia dúzia de travessas de sobremesas: torta de chocolate, brigadeiros e quindins, profiterolis, maçã em calda, musse de maracujá e alguns doces trazidos de Pelotas. As crianças terminavam de empanturrar-se e espiavam animadas a árvore de natal, rodeada por dezenas de caixas no canto da sala.

O casal de anfitriões, vivos apesar das discussões que os acompanharam nos últimos 52 anos, fingia indiferença mútua. Ignoravam-se através das conversas com os três filhos, dos comentários aos genros e à nora e das brincadeiras com os 5 netos. Tinham naquela companhia numerosa a desculpa perfeita para sequer se dirigirem a palavra, ainda que vez por outra se ofendessem pelas costas. Nesse alegre retrato natalino, as atenções giravam ao redor de um menino chamado Alexandre, o mais novo entre os netos, com apenas dois anos e meio. Grande, gordo e mimado - todos esses adjetivos saltavam aos olhos diante daquela criança -, lhe haviam prometido uma noite inesquecível, não apenas carregada de presentes, mas acompanhada de uma visita especial: o Papai Noel.

Ainda que nenhuma das outras crianças acreditasse mais na existência do bom velinho – todas haviam já entrado, e algumas até saido, da adolescência – a atenção dedicada ao pequeno era tanta que sua vó quis presenteá-lo com um espetáculo a parte. Com uma amiga, ela resgatou o número de um ator que se encaixasse no perfil do sr. Claus (alto, gordo, de barba branca e com jeito para lidar com crianças). Na primeira semana de dezembro, chamou-o pelo telefone.

– Alô?

– Olá! Eu gostaria de falar com o senhor Marlon...

– Ele na linha.

– O senhor ainda faz trabalhos de papai noel na noite de natal?

– Faço, mas tô com meus horários completos!

– Não me diga! O senhor tem certeza de que não pode aparecer, a gente paga bem...

– Olha, lamento, mas meu trabalho exige muita responsabilidade e não quero deixar nenhum cliente na mão. Em compensação, posso lhe indicar um conhecido...

– Sim, por favor!

– Vou lhe passar o telefone do Wellington...

– De quem?

– Do Wellington... Ele é novo no serviço, mas faz um papai noel quase perfeito.

– Olha, do que que se trata esse quase? Eu não quero papai noel magro ou de barba postiça.

– Não se preocupe senhora, ele só não é exatamente... ãhm... ortodoxo... Mas as crianças sempre adoram.

– Se o senhor garante...

– Não se preocupe, é só ligar pra ele e dizer que foi o Marlon quem lhe passou o número.

Ela rabiscou o telefone no canto de uma folha de jornal e telefonou em seguida. Bem atendida por um homem de voz grave, ela marcou a visita para as 21h de domingo, dia da véspera, e acertou os detalhes menores sem coragem para perguntar o porque do quase. Era um papai noel, e nesse exato momento era tudo de que ela precisava saber.

(depois eu continuo, acho que tá meio grande a essa altura)

10.1.07

Vestiba e decepção

Entrei no blog porque tava a fim de escrever - pra falar a verdade, faz dias já que andava querendo, mas como alguns de vocês sabem, estive (re)fazendo o vestibular. Acho que não passei, mas calculo que minha nota ficará em cerca de 600 pontos. Para quem não estudava há um bom tempinho, acho que me dei bem...

O primeiro porém (pois sou um homem para quem os "poréns" geralmente importam tanto quanto ou mais do que os "porquês") é que isso não prova nada. Meu desempenho não foi excepcional, não foi satisfatório, não foi coisa nenhuma. Deixando de lado português e inglês, fui pior do que imaginava...

O segundo porém (e este se opõe ao primeiro) é que estou colhendo os frutos da minha displicência. Percebi, ao longo das provas, que poderia ter ido muito melhor - muito mesmo - se estivesse um pouco que fosse mais interessado, o suficiente para estudar durante um mês com a dedicação que tive nos últimos quatro dias.

Trata-se daquela velha sensação de que não dei o melhor de mim, ou melhor, de que dei o melhor de mim, sim, e de que esse melhor revelou um indivíduo extremamente desfocado, cujo potencial se encontra delineado por sua (minha) própria falta de dedicação. Em suma: a)Meu potencial se encontra delimitado pela minha falta de força de vontade. b) A força de vontade é um dos elementos constituintes do próprio potencial. c) Meu potencial está preso a mim em uma relação de interdependência, num círculo-vicioso que eu não posso quebrar. d) Conclusão: meu potencial é aquilo que tenho para oferecer agora, ele não vai melhorar ou mudar a não ser que o meio ou um objetivo forte o suficiente me faça mudá-lo.

Deixo o raciocínio assim e vou dormir. Espero que vocês entendam e não achem que foi pessimista. Foi realista, é só. Boa noite, and have a nice day...

7.1.07

Não tem nada pra comer que seja azul...

A revelação não foi minha, foi do Ítalo. Estavamos sentados no Só Comes, à espera de um xis acebolado (ele) e de um xis coração (eu), em companhia das minhas amigas Lu, Deza e Paula, quando essas palavras irromperam de sua boca sem aviso prévio:

– Não tem nada pra comer que seja azul!

Era verdade. Eu estava com tanto sono que não entendi. Alguém mencionou "Curaçau Blue", eu completei com "Gelatina", mas o Ítalo respondeu que não servia.

– Mas nada disso é natural...

Nada mesmo. Falaram sorvete, chiclete, pirulitos e nada. Eu pensei em amora, atum e outras coisas de coloração arroxeada, mas não encontrei o que servisse. Agora, me rendo aesta verdade absoluta, cujo porque e asimplicações mal consigo imaginar.