O Último Rei da Escócia
Ok, ok... dessa vez fiz diferente: escrevi a (curta) matéria em casa e vou publicar na sexta. Boa leitura e não usem isso como desculpa para não comprar o jornal!!!
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Em uma atuação que lhe rendeu o Globo de Ouro de Melhor Ator na categoria Drama, Forest Whitaker trouxe de volta à vida o carismático e violento ditador Idi Amin – auto-proclamado "O Último Rei da Escócia". Esse personagem real, que na década de 70 chegou ao poder em uma Uganda turbulenta e empobrecida, envolveu o país num dos mais violentos regimes do mundo moderno, responsável pela morte de cerca de 300 mil pessoas.
Contada na visão do fictício médico escocês Nicholas Garrigan (James McAvoy), a história leva o espectador em uma viagem dupla, pelo universo íntimo e pelo regime criado por Amin. Recém formado, o escocês parte para a África a fim de conhecer o mundo e fugir da vida que lhe esperava junto à família. Uma vez lá, deixa-se envolver pela figura do líder em ascenção e, aceitando a função de médico pessoal, acaba por mergulhar fundo no círculo do poder.
Ainda que recheada de emoções fortes, a trama pode desapontar quem procura por uma aventura convencional. Na figura de Garrigan não há herói, não há grandeza e quase não há escolha. A relevância do médico restringe-se a guiar o público através do processo de descoberta de Amin, enquanto ele próprio se entregando à vida que lhe foi reservada e sente na pele o carinho e o desprezo do ditador.
Mas é a perspectiva estrangeira oferecida pelo personagem que o torna interessante. O olhar do médico ajuda a mostrar o caráter ambíguo do líder em ascenção: a fascinação que mantinha sobre o seu povo, a personalidade extremada – que intercalava um tom ameaçador com demonstrações de afeto quase infantis – e a controvérsia gerada por suas ações na política.
Todas essas facetas foram pintadas com cores vivas por Whitaker, que além do Globo de Ouro está entre os favoritos para o Oscar. A forma como absorveu os traços da polêmica personalidade de Amin realiza uma façanha, contextualizando não apenas os conflitos internos de um homem, mas as forças que marcaram e dividiram uma sociedade.
Não bastasse, o filme agrada ainda pelos aspectos técnicos. A trilha sonora constrói um ambiente sólido, revelando os sons primitivos de uma África agrária e a mistura de ritmos que tão bem caracteriza a urbanização inspirada nos moldes dos países desenvolvidos. A fotografia, ainda que nem sempre agradável aos olhos, é constante em tons e enquadramentos, criando uma linguagem tanto marcante quanto dinâmica. Só dá pra reclamar que a pipoca não vem incluída...